Coluna
Como combater a depressão
A depressão é uma doença que acomete até 12% da população mundial; e estes números estão em crescimento. Pessoas deprimidas possuem maior risco de morrer prematuramente. Há uma piora significativa na qualidade de vida e deterioração da saúde geral.
As mulheres são duas vezes mais cometidas pela depressão que os homens. Outro fator que está relacionado ao aumento da prevalência desta enfermidade é a presença de doenças crônicas. Apesar de ser altamente prevalente, nem sempre a depressão é diagnosticada e tratada corretamente. Por este motivo é muito importante ficar atento aos sintomas como humor depressivo na maior parte do dia, perda de interesse nas atividades, insônia, alteração importante do peso (para mais ou para menos), lentidão ou agitação psicomotora, cansaço ou baixa energia sem motivo óbvio, dificuldade crônica em focar e tomar decisões, pensamentos de inutilidade ou culpa excessiva e pensamentos suicidas recorrentes ou tentativa de suicídio
A avaliação de um médico é imprescindível para fazer o diagnóstico e instituir o tratamento adequado. Procure um profissional de confiança sempre que suspeitar de alguma alteração de humor ou comportamentos suspeitos. O tratamento com antidepressivos é efetivo e pode levar duas semanas em média para fazer efeito.
Outras medidas comportamentais também podem contribuir para a prevenção e melhora da depressão. Existem evidências científicas que mudanças benéficas do estilo de vida quando aliadas a medicação são efetivas em melhorar a qualidade de vida.
Que exercício é bom todos nós sabemos. Associada a uma alimentação saudável, esta prática é imbatível para uma vida livre de depressão. As comprovações cientificas são inúmeras e constantes.
Em um revisão publicada em junho de 2018, pesquisadores avaliaram 33 estudos randomizados incluindo 1877 pessoas. O exercício resistido (como musculação) foi associado a diminuição significativa dos sintomas depressivos independente do estado de saúde da pessoa e da quantidade de atividade. E quanto é necessário? Segundo os pesquisadores 150 minutos de exercício por semana são suficientes para manter o nosso cérebro saudável. A melhor solução é encontrar uma atividade física que você goste e incorporar à rotina.
Uma forma maravilhosa de aumentar a sensação de felicidade e combater a depressão é manter contato com a natureza. Uma revisão publicada em 2017, demonstrou que há benefícios múltiplos para pessoas que passam tempo nas florestas, inclusive melhora dos sintomas depressivos.
Um outro estudo randomizado, publicado na revista médica Aging & Mental Health avaliou pessoas idosas (idade entre 67 e 92 anos) com depressão. A conclusão foi: três meses de atividades ao ar livre uma vez por semana foram suficientes para melhorar o humor dos participantes, comparado ao grupo controle.
Frequentar um parque ou praça pode ser um grande começo para combater a depressão. E se você puder fazer isso acompanhado de pessoas queridas melhor ainda. Pois outro fator importante para melhorar o humor é o convívio com amigos.
Existe uma relação estreita entre isolamento social e incidência de depressão. Pessoas que estão passando por algum tipo de doença, estresse e estado depressivo se beneficiam imensamente da presença de familiares, amigos e entes queridos. Se existe algo que você possa fazer por alguém próximo que seja acometido por sintomas depressivos seria: estar presente e demonstrar genuína preocupação.
Alguns estudos recentes confirmaram que a suplementação com vitamina D pode melhorar os sintomas depressivos. A melhor fonte de vitamina D é a exposição solar. Trinta minutos de banho de sol nos braços e pernas três vezes por semana são suficientes. E se você conseguir ir a um local repleto de verde, melhor ainda.
Adotar uma alimentação saudável é um dos pilares de uma vida com melhor qualidade. Não seria diferente para amenizar os sintomas da depressão. Se você precisa de mais um motivo para incluir alimentos naturais na sua rotina, a melhora do humor está diretamente relacionada a este hábito.
Pesquisadores da Rush University Medical Center em Chicago avaliaram 964 pessoas com idade média de 81 anos durante 6 anos e meio. A conclusão foi que os indivíduos que aderiam a uma alimentação saudável rica em frutas, verduras, carnes magras e limitaram alimentos com gorduras saturadas tiveram menor risco de desenvolver depressão. Os achados foram apresentados na 70a reunião anual da American Academy of Neurology em Los Angeles em 2018.
O aumento do peso piora os sintomas depressivos e estes contribuem para que a pessoa engorde. Trata-se de uma retroalimentação, a depressão causando a obesidade e vice-versa. A melhor forma de quebrar este círculo vicioso é procurar ajuda médica, tanto para tratar a depressão quanto o aumento do peso. A boa notícia é que o inverso também é verdadeiro: quando se perde peso, o humor também melhora.
Dormir a quantidade de horas suficientes por dia é essencial para a saúde. Portanto, para pessoas com depressão adequar o sono deve ser uma prioridade. Em uma revisão publicada em na revista médica Depression and Anxiety em 2015, pesquisadores avaliaram mais de 25 mil pessoas e seus padrões de sono. Os autores chegaram à conclusão que os indivíduos que dormiam excessivamente ou muito pouco tiveram maior chance de desenvolver quadro depressivo.
Adriana Pessoa é graduada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e possui Residência em Clínica Médica e Endocrinologia pela mesma instituição. É Especialista em Endocrinologia e Metabologia pela Associação Médica Brasileira. Contato: arpess
Referências
Development of lifetime comorbidity in the World Health Organization world mental health
Unipolar depression in adults: Epidemiology, pathogenesis, and neurobiology
Lifestyle medicine for depression
Association of Efficacy of Resistance Exercise Training With Depressive Symptoms
Exercise for cognitive brain health in aging: A systematic review for an evaluation of dose
Health and well-being benefits of spending time in forests: systematic review.
What Are the Causes of Late-Life Depression?
Late-life depression: Burden, severity and relationship with social support dimensions in a West African community.https://www.ncbi.
Vitamin D Supplementation May Help Ease Depression
DASH-Style Diet Associated With Reduced Risk of Depression
Sleepduration and depressionamong adults: a meta-analysis of prospective studies.
Coluna
A alimentação e a economia circular
Você já se perguntou de onde vem a comida que vai parar no seu prato? Se aquilo que você come vem de perto ou não? Se é mesmo saudável ou fresco? De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os alimentos in natura, ou minimamente processados, são a base ideal de uma alimentação adequada. Eles são obtidos diretamente de plantas ou animais, com o mínimo ou nenhum tipo de processamento.
Ao sairmos em busca desses ingredientes nas compras, nossa preocupação deve se estender para além do sabor e da qualidade. Ponderamos o preço dos produtos, a distância até o local de compra, o tempo de deslocamento, o que engloba a emissão de carbono neste transporte, e diversos outros fatores que fazem parte da equação de um consumo mais sustentável. Estes são somente alguns dos muitos aspectos que nos possibilitam pensar a relação entre alimentação e Economia Circular.
Ao falarmos sobre economia circular na alimentação, não podemos deixar de mencionar a importância de reduzir o desperdício e repensar o ciclo de vida dos alimentos. Isso inclui a maneira como lidamos com resíduos e embalagens. A busca por alimentos não embalados, ou que utilizem embalagens sustentáveis, em conjunto com a redução do desperdício são elementos-chave desta equação.
Ao olharmos para o nosso prato de comida, todos os dias, devemos celebrar. Ele é resultado do trabalho de dezenas, centenas de pessoas em parceria com o ambiente. Conhecer cada melhor toda essa cadeia, da produção ao eventual descarte, deve nos fazer refletir sobre questões éticas relacionadas à disponibilidade, ao acesso e, ao mesmo tempo, a todo o desperdício que ainda existe.
Afinal, a circularidade não se limita apenas à produção de alimentos, mas também ao que fazemos com as sobras de comida e embalagens após o consumo. A adoção de práticas de “lixo zero” em nossas casas e o apoio a iniciativas de reciclagem e reutilização de embalagens contribuem significativamente para a construção de uma economia mais circular e sustentável.
Podemos e devemos fazer melhores escolhas todos os dias. É um aprendizado permanente na direção de zerar a quantidade de resíduos que produzimos e garantir acesso a alimentação saudável e de qualidade para todos. Ou seja, uma alimentação circular enquanto garantia de qualidade ambiental e direito humano.
*Edson Grandisoli é embaixador e coordenador pedagógico do Movimento Circular, Mestre em Ecologia, Doutor em Educação e Sustentabilidade pela Universidade de São Paulo (USP), Pós-Doutor pelo Programa Cidades Globais (IEA-USP) e especialista em Economia Circular pela UNSCC da ONU. É também co-idealizador do Movimento Escolas pelo Clima, pesquisador na área de Educação e editor adjunto da Revista Ambiente & Sociedade.
Coluna
A vida é muito curta para ser pequena
Temos empregos que odiamos para comprar coisas que não precisamos.
Tyler Durden, de “O clube da Luta”
Outro dia eu tinha dezessete anos, estava aprovado no vestibular e tinha a vida toda pela frente; hoje acordei com sessenta anos e, olhando para trás, percebi que “de zero a dez” minha vida é no máximo nota quatro.
É verdade que tenho filhos de caráter e formação extraordinários, mas o mérito é grandemente da Celinha, do Notre Dame e da espiritualidade que envolvia a escola, do CISV, que abriu um mundo de possibilidades para eles e das relações afetivas e acolhedoras da família.
Transcrevo os versos do Cazuza, Poeta da minha geração, para descrever o que senti na manhã que acordei surpreso com sessenta anos:
Os meus sonhos
Foram todos vendidos
Tão barato que eu nem acredito
Ah, eu nem acredito
Que aquele garoto que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Frequenta agora
As festas do Grand Monde
Fato é que o tempo aqui no planeta é bem curtinho e acabamos desperdiçando o nosso tempo em coisas das quais não gostamos e deixando “para depois” aquilo que de fato amamos, sentimento sintetizado pelo poema dos Titãs:
Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Assustado com a minha condição de idoso – definida pela Lei Federal 10741/2003, mais conhecida como Estatuto do Idoso -, tenho “pensado na vida”, no caminho que percorri, no caminhar e nas companhias.
A nossa vida é marcada pelo tempo e pelo medo, pelo tempo que nos resta e pelo medo de não alcançarmos sucesso; tenho tido flashes de momentos que tiveram ou tem significado na caminhada; lembrei de uma conversa que tive com o meu tio Chico dentro da piscina da casa dele; ele me perguntou: “Você está feliz com a faculdade, gostando do curso?”, respondi afirmativamente, mas ressalvei “tenho medo apenas da mediocridade”; ele respondeu: “esse é um medo bom. Estude, estude mais e depois estude mais um pouco, mas não apenas Direito”, depois desse conselho o medo passou.
Mas o fato é que, aos sessenta anos, o tempo que gastei, cooptado pela lógica médio-classista, me fez correr atrás de coisas que não tem relevância alguma; e, o que mais tem “doído”, é a certeza de que gastei tempo demais colocando meu apenas o conhecimento e a alma para solucionar questões que não me diziam respeito, especialmente no âmbito profissional; e a retribuição? nada além dos honorários e algumas vezes nem isso.
O susto me alertou não apenas de que a vida é curta, mas que eu gastei tempo demais com coisas desnecessárias; a ideia de finitude e mortalidade não me perturba, apenas não quero mais gastar tempo de forma equivocada. A consciência da mortalidade não é negativa, pois como disse o Cortella: “é essa consciência que nos desperta da letargia”, algumas pessoas, contudo – e não são poucas – se distraem em relação a isso e como escreveu Chico Buarque:
Vida, minha vidaOlha o que é que eu fizDeixei a fatia mais doce da vidaNa mesa dos homens de vida vaziaMas, vida, ali, quem sabe, eu fui feliz
Tive uma sócia, de triste lembrança, que dizia: “não conheço ninguém que goste tanto de voltar para casa após o trabalho”, ela dizia isso porque, raramente, eu participava de happy hours; de fato, prefiro voltar para casa; gostava de encontrar os meninos, a Celinha, o Jow, o Tommy, o Ditão e o Marreta (nossos cachorros, que estiveram conosco por todo o tempo de suas vidas), meus livros e o caos criativo e criador que uma casa cheia de histórias nos oferece.
Passei tempo demais vivendo uma vida pequena, no ritmo das pequenas coisas falsamente urgentes e deixando de lado o que é de fato importante. Podemos ser condescendes conosco – o que é, inclusive uma tendência humana, tão humana -, e dizer que vivemos um tempo quem que tudo é apressado, que temos uma agenda lotada de compromissos profissionais e sociais, que a conectividade exige de nós insanidade, etc e tal; tudo isso é verdade, mas o fato é que tudo na vida são escolhas nossas.
Escolhas ruins, nos levam a caminhos ruins e a resultados piores ainda.
Observo as novas gerações, escravos e escravas do número de “likes” e “unlikes” que se tem, isso faz com que haja não só ausência de tempo, mas uma perda de tempo. Não se trata de afirmar que toda rede social e tecnologia é ruim e seja, em si, uma perda de tempo, mas a não utilização com parcimônia, inteligência e uma medida boa, faz com que se perca um tempo imenso ao dar retorno apenas para não chatear a outra pessoa. Isso faz com que, a vida que é curta, vá se apequenando exatamente pela ausência de capacidade de cuidar daquilo que é importante. Mas a questão do uso da tecnologia vamos tratar noutro momento.
A reflexão de hoje caminha, mesmo que caótica, para chegar a uma frase de Benjamin Disraeli, 1.º Conde de Beaconsfield, que foi um político Conservador britânico, escritor, aristocrata, além de Primeiro-Ministro do Reino Unido em duas ocasiões: “A vida é muito curta para ser pequena”.
Pedro Benedito Maciel Neto, 60, advogado e pontepretano, sócio da www.macielneto.adv.br – [email protected]
Coluna
Combate à Prostituição Infantil: Desafio Brasileiro
O Brasil enfrenta um desafio persistente no combate à prostituição infantil, um problema social grave que afeta crianças e adolescentes em todo o país. Segundo dados da Polícia Federal, as ocorrências de exploração sexual de menores têm mostrado números alarmantes, exigindo ações efetivas tanto das autoridades quanto da sociedade civil. A prostituição infantil, além de ser um crime hediondo, viola direitos fundamentais, colocando em risco o futuro de muitos jovens brasileiros.
A complexidade desse fenômeno é evidente, dada a sua relação intrínseca com fatores como pobreza, falta de educação e vulnerabilidade social. Em muitos casos, crianças são coagidas ou seduzidas para a prática, encontrando na prostituição uma falsa saída para problemas econômicos e familiares. O governo brasileiro, em parceria com organizações não-governamentais, tem desenvolvido programas de prevenção e conscientização, visando educar a população sobre os perigos e as consequências legais envolvidas.
As operações de repressão, lideradas pela Polícia Federal em conjunto com as polícias estaduais, são fundamentais para o combate direto à prostituição infantil. Através de investigações e ações de inteligência, muitas redes de exploração sexual de menores têm sido desarticuladas. Estas operações frequentemente revelam a conexão de tais redes com outros crimes, como tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, ampliando o escopo da luta contra a exploração sexual infantil.
A legislação brasileira é rigorosa no que diz respeito à prostituição infantil. A pena para quem explora sexualmente crianças e adolescentes pode chegar a 10 anos de prisão. No entanto, a eficácia da lei depende de sua aplicação consistente e de um sistema judiciário ágil. O fortalecimento das instituições responsáveis por garantir a justiça é, portanto, um aspecto crucial na luta contra essa chaga social.
Além da ação governamental e policial, é essencial o envolvimento da sociedade. A conscientização pública sobre a gravidade da prostituição infantil e a promoção de uma cultura de proteção aos direitos das crianças e adolescentes são passos fundamentais para erradicar esse mal. O engajamento da mídia, a educação e o apoio da comunidade são ferramentas valiosas nesse processo.
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