A indústria do chocolate enfrenta um dos maiores desafios das últimas décadas: a crise global do cacau. Os altos custos da matéria-prima, causados por pragas, mudanças climáticas e problemas sanitários nos países africanos — principais produtores mundiais, como Gana e Costa do Marfim — estão impactando diretamente a produção de chocolates. Em resposta a esse cenário preocupante, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram uma solução inovadora e sustentável: uma composição alimentícia que substitui o cacau utilizando resíduos agroindustriais.
A nova tecnologia, patenteada com o nome Composição Alimentícia de Chocolate com Reaproveitamento de Resíduos Agroindustriais, foi desenvolvida na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP. De acordo com a professora Suzana Lannes, uma das responsáveis pelo projeto, a formulação utiliza subprodutos da agroindústria, como resíduos do malte da indústria cervejeira, para criar um pó que substitui o cacau em pó e o liquor de cacau.
Além de substituir o cacau, a nova composição oferece vantagens nutricionais e ambientais. Rica em compostos bioativos, fenólicos, flavonoides, fibras, lipídios, proteínas e carboidratos, ela apresenta alta capacidade antioxidante. Esses benefícios tornam o produto uma alternativa mais saudável e sustentável, com potencial para transformar o mercado.
Diferente de outros produtos conhecidos como Cocoa Extenders, a inovação da USP vai além da simples substituição. O novo ingrediente agrega valor nutricional e contribui para a redução do desperdício, ao reaproveitar materiais que seriam descartados. A formulação apresenta coloração, textura e sabor muito semelhantes ao chocolate ao leite tradicional, permitindo sua aplicação em diversos produtos da indústria alimentícia.
Atualmente, a inovação está em fase de protótipo, mas os pesquisadores estão otimistas com sua adoção em larga escala. A urgência é justificada pelo relatório da Organização Internacional do Cacau (novembro de 2024), que estima um déficit recorde na produção mundial da matéria-prima para 2025 — o pior em 60 anos.
Com a alta nos preços do cacau e a escassez no fornecimento global, soluções como essa se tornam cada vez mais necessárias. A tecnologia da USP representa um passo importante em direção a uma produção de chocolate mais sustentável, acessível e resiliente frente às crises climáticas e econômicas.
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