O Dia Nacional de Combate e Prevenção à Trombose, celebrado em 16 de setembro, instituído pela Lei nº 12.629/2.012, tem o propósito de conscientizar a população a respeito dos riscos do Tromboembolismo Venoso.
A condição possui altíssima prevalência, pois acomete de uma a duas pessoas a cada mil habitantes por ano no mundo, mas ainda é muito pouco conhecida, diagnosticada e notificada no país. De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo – SBACV-SP, Dr. Fabio H. Rossi, a condição se caracteriza pela formação de um coágulo – geralmente nas pernas ou na pelve – que interrompe o fluxo do sangue. É a terceira causa de morte cardiovascular, ficando atrás apenas do Infarto Agudo do Miocárdio e do Acidente Vascular Cerebral, além disso, é a principal causa evitável de morte intra-hospitalar. Faltam dados epidemiológicos confiáveis no Brasil, e a doença pode estar sendo subnotificada.
O Tromboembolismo Venoso ocorre com a falta de movimentação dos membros inferiores por períodos prolongados, o que é comum em ambientes de trabalho, durante longas viagens, nos sedentários, em internados, no pós-operatório e pós-parto. Os riscos são ainda maiores nos tabagistas, nas usuárias de anticoncepcionais e com o avançar da idade. Quando o trombo formado nas pernas se desprende e se desloca até o pulmão, ocorre a Embolia Pulmonar, que dificulta a oxigenação e sobrecarrega o coração. “Quando a embolia é volumosa, o coração tem dificuldade de bombear o sangue, pode se dilatar, sofrer um processo de arritmia, causar infarto agudo e até parada cardiorrespiratória. Mesmo nos casos menos perigosos, as sequelas crônicas, como a síndrome pós-trombótica e a hipertensão pulmonar, podem trazer graves sequelas”, explica Dr. Fabio.
Estudos recentes verificaram que nos infectados pela Covid-19 internados em enfermaria, 7% desenvolveram tromboembolismo venoso, e acometeu 31% dos internados em UTI. (J Vasc Surg Lymphatic Venous did 2022 9(21): 289-298). Houve uma verdadeira avalanche de casos durante a pandemia, o que serviu para alertar os profissionais da saúde e a população, de uma forma geral, sobre a alta prevalência e a sua gravidade. Mas mesmo fora do período pandêmico o cenário é gravíssimo. Nos EUA e na Europa a patologia faz mais vítimas do que o câncer de mama, de próstata e acidentes de carro, em conjunto (BMJ Qual Saf 2013; 22: 809-815).
A sua predominância e o número de internações variam consideravelmente entre as nações, e uma série de fatores podem influenciar nos resultados, como as características genéticas, a adesão aos protocolos de profilaxia e prevenção, sobretudo nos pacientes internados, a forma como é feito o diagnóstico e, sobretudo, a capacidade de notificação. Nos EUA, segundo dados oficiais, existem em média 547.000 hospitalizações anuais em indivíduos com mais de 18 anos. O número de casos é maior se considerarmos que muitos são oligossintomáticos, ou seja, apresentam sintomas leves (Site).
No Brasil, segundo dados do Data-SUS, as internações vêm aumentando, totalizando 6.527 em 2021, mas esses números são baixíssimos, mesmo se levarmos em consideração diferenças populacionais, e que sete em cada dez brasileiros dependem do SUS.
Esses números são alarmantes, uma vez que a carência de diagnóstico resulta na falta de tratamento, feito com o uso de anticoagulantes e evita a progressão e a embolização do coágulo para o pulmão. Não realizar o diagnóstico gera o risco de óbito, altas taxas de recidiva e necessidade de novas internações, aumento de custos e, sobretudo, impossibilidade de gerenciamento de recursos. Estudos indicam que em casos de morte por causa indeterminada, em 11% das necropsias realizadas, a embolia pulmonar é considerada a causa principal (Sweet PH 3rd, Armstrong T, Chen J, Masliah E, Witucki P. Fatal pulmonary embolism update: 10 years of autopsy experience at academic medical center. JRSM Short Rep. 2013 Jul 30;4(9):2042533313489824. doi: 10.1177/2042533313489824. PMID: 24040503; PMCID: PMC3767072.) “Apesar do aumento de internações reportadas, as taxas de internação por tromboembolismo são ainda baixíssimas se compararmos com outros países civilizados”, alerta Dr. Fabio.
O principal problema em relação à busca de dados no Data-SUS é que ela é possível apenas com a inserção do CID principal. Dessa forma, muitos casos de tromboembolismo que ocorrem durante a internação, período em que o risco de ocorrência é o maior, acabam não sendo encontrados, e isso pode ser responsável pela baixa incidência de casos notificados no Brasil. “A SBACV-SP está atenta a esse grave problema de saúde pública e vem trabalhando em um projeto para tornar lei a notificação compulsória dos casos de tromboembolismo venoso. Além disso, estamos fazendo uma série de eventos científicos e sociais para alertar a população e os profissionais de saúde sobre a necessidade da prevenção, diagnóstico e tratamento da doença”, comenta o Dr. Fabio H. Rossi.
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