Saúde & Beleza

A importância do aleitamento materno

Agosto é o mês de incentivo e conscientização sobre o aleitamento materno.  Chamada de Agosto Dourado, essa campanha destaca os benefícios da amamentação para a mãe e o bebê. Nesta entrevista, a pediatra Prof. Dra. Tania Quintella, vice-presidente do Departamento Científico de Pediatria da SMCC (Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas), mestre em Aleitamento Materno pela Unicamp e docente de Pediatria na PUC Campinas, fala sobre o assunto e dá uma série de dicas para as mamães.

 Quais os benefícios da amamentação para o bebê?

Os benefícios são inúmeros, tanto para a mãe quanto para a criança. Para a criança, em todos os aspectos. Primeiríssimo, sem dúvida nenhuma, é o vínculo, que a criança faz com a mãe e a mãe com a criança, durante a amamentação.  Então a frase “amamentar é um ato de amor” é absolutamente verdadeira. Segundo, para a nutrição. O leite materno, como a gente sabe, é um alimento muito completo. Ele tem todos os nutrientes necessários e, além disso, possui o sistema de defesa completo. A imunologia do leite materno é bastante estudada. Ele também contribui para um sono adequado porque contém melatonina até os três meses para regular o ritmo de sono do bebê. O leite materno provê, ainda, a parte emocional da criança, que amadurece nesse contato. O contato dela com o mundo é via amamentação. Quando ela chora, sente dor, está incomodada com gases ou com cólica, basta colocar no peito que acalma. E assim ela vai crescendo.

E a longo prazo, quais os benefícios da amamentação?

A longo prazo, tem bastante pesquisa sobre isso. A gente sabe que as crianças amamentadas têm uma menor propensão às doenças, principalmente as doenças crônicas. A amamentação protege contra a asma, obesidade, diabetes, hipertensão, síndrome metabólica em geral e infecções. Tem um estudo muito importante mostrando que as crianças amamentadas são mais inteligentes, inclusive com testes de seguimento e tudo mais.

Que tipos de cuidados com a própria alimentação a mãe deve ter no período da amamentação?

Obviamente ela precisa ter uma alimentação adequada, saudável. E ela precisa ter um sono saudável. O aspecto emocional também é muito importante porque a gente sabe que quando a mãe está estressada, preocupada, deprimida, o que for… vai gerar uma liberação de adrenalina e noradrenalina na corrente sanguínea, que são hormônios que prejudicam a descida do leite porque inibem a ocitocina.

Alguns alimentos consumidos pela mãe podem dar cólica no bebê?

Os alimentos que a mãe consome pode passar no leite, mas a maioria não causa grandes alterações para o bebê. A gente sabe que os alimentos ácidos vão acelerar o trânsito intestinal da criança, então o cocô pode ficar com uma cor um pouco mais esverdeada, ela pode ter um pouco de cólica… Mas cada criança é uma criança, então a mãe realmente precisa observar isso.

Como saber se está tudo certo com a amamentação? Com a inexperiência, algumas mães podem ter dúvidas se o bebê está alimentado, se o leite é suficiente, etc.

Bastante mãe tem dúvida, é verdade. Primeiro, a mãe precisa estar simplesmente motivada para amamentar. Temos um monte de pesquisas mostrando que quando a mãe quer amamentar, na imensa maioria dos casos, tem exceção, é óbvio, ela consegue, sem maiores problemas. Muito importante mesmo é o primeiro mês, porque é nas primeiras semanas de vida que o bebê consolida a sucção e a coordenação da sucção, deglutição e respiração. Então esses bebês que têm dificuldade no início podem machucar o peito da mãe, ganhar pouco peso, podem chorar muito. Na dificuldade da amamentação, a coisa mais comum que acontece é o bebê deglutir ar e ficar com muitos gases…

Três fatores podem mostrar se alguma coisa está errada com a amamentação: o bebê que ganha pouco peso, o bebê que chora demais ou o bebê que tem um sono muito prejudicado, não dorme direito. Muitas vezes, a mãe chega no consultório e fala que ele não dorme nem de dia e nem de noite ou que ele está trocando o dia pela noite.

Como deve ser a amamentação? Primeiro um peito e depois o outro? Na próxima mamada inverte?

Deve ser dado o primeiro peito até esvaziar. Quando esvazia totalmente o peito, o organismo da mãe entende que precisa fabricar mais leite. Se ficar resto, ele entende que do jeito que está, está bom, e pode até diminuir. Tem que colocar para arrotar. O melhor jeito de arrotar é em pezinho no ombro da mãe, batendo nas costinhas com delicadeza, mas não muita, porque precisa empurrar as bolhas de gás para cima para ele poder arrotar. Ou então de barriguinha para baixo, no colo da mãe, inclinado, com a cabeça mais alta do que as perninhas. Também é preciso observar a pega. Precisa colocar bastante peito na boca do bebê para que ele mame em volta do mamilo e não o mamilo. Senão, vai machucar. Se dói para amamentar, tem alguma coisa errada. E se o bebê fizer muito barulho durante a mamada, aqueles barulhos de estalar o palato, barulho de estar deglutindo gases… também é sinal de que não está bom e, provavelmente, vai dar problema no ganho de peso.

Qual o intervalo entre uma mamada e outra? Há uma regra geral?

Isso é muito variável. Tem bebê que é um reloginho, como as mães falam, que a cada três horas, acordam bonitinho, mas tem bebê que mama a cada duas horas, duas horas e meia… tem bebê que isso é mais variado. Não há um grande problema nisso.

Qual sua opinião sobre amamentação em livre demanda?

Eu tenho algumas considerações quanto à livre demanda. Primeiro, durante o dia, até está tudo bem. Agora, à noite, precisa ensinar o bebê a dormir. Por quê? Porque é à noite que ele vai aproveitar tudo que ele digeriu de dia. É durante o sono noturno que vai fabricar o hormônio de crescimento. Esse hormônio de crescimento é fabricado pela hipófise e liberado no sangue, onde estão todos os nutrientes que ele conseguiu durante o dia mamando, digerindo e absorvendo. Então é o hormônio de crescimento que vai promover a incorporação desses nutrientes no corpo da criança, por isso, o sono é fundamental. Portanto, à noite, quando um bebê acorda, resmungando e chorando, precisa ver por que isso está acontecendo, e não simplesmente amamentar. Isso vai acabar acostumando o bebê a mamar muitas vezes na madrugada, fragmentando o sono de uma maneira muito importante e prejudicando o crescimento. E prejudica o crescimento de todos os tipos: o crescimento emocional, o crescimento físico, pela não incorporação dos nutrientes, o crescimento intelectual, cognitivo, porque é de noite que se coloca ômega 3, ômega 6 e outros nutrientes no cérebro, responsáveis pelas habilidades, o raciocínio e a memória. Também prejudica o crescimento da imunidade, que se faz durante o sono noturno, quando incorporamos proteínas, que são os principais elementos formadores do sistema imune.

O que pode fazer o bebê acordar muito à noite?

Quando o bebê acorda muito à noite ou troca a noite pelo dia, tem que ver o que está acontecendo. O mais comum de tudo é o acúmulo de gases. Quando a criança mama, uma boa mamada, para realmente fazer a repleção do estômago, ela engole ar junto, é por isso que arrota. Mas acontece que no arroto, não saem todos os gases, todo o ar que ela engoliu. A outra parte vai ter que percorrer do estômago para o intestino, rodar 6,5 metros de intestino fino e mais um tanto de intestino grosso para sair por baixo, como flatos. O bebê está sempre com gases, ou mais ou menos. Geralmente ele acorda à noite por isso. Os gases começam a incomodar, tanto que tem um teste muito simples: antes de pegar e simplesmente amamentar, vire esse bebê de bruços devagarzinho e observa porque, às vezes, ele para na hora de resmungar e dorme de novo. Outra prova de que não é por fome que os bebês acordam tanto à noite é que as mães falam que colocam no peito e que eles mamam duas, três sugadinhas e dormem novamente.

Além de virar a criança, o que mais é possível fazer para diminuir esse desconforto?

A gente usa bastante dar remedinho para gases na hora que acorda à noite, virar de ladinho ou de bruços e deixar ali por uns 15 minutos. Eu oriento usar a chupeta com umas gotinhas de remédio de gases. O bebê não vai pegar a chupeta, a maioria dos bebês que mamam no peito não pega a chupeta, mas ele lambe o remedinho de gases. E você acomodando ele de barriguinha para baixo, os gases param de incomodar e ele acaba dormindo tranquilo.

Você é a favor do uso da chupeta?

O uso de chupeta é polêmico entre os pediatras, porque poderia induzir ao desmame. Entretanto, pesquisas com grande número de díades mãe-filho mostram que quando as mães estão motivadas a amamentar, o uso de chupeta não induz ao desmame. E tem algumas vantagens, entre elas, poupar a mãe! É claro que eu não estou defendendo o uso de chupeta até 4, 5 anos de idade e, muito menos, o uso de chupeta, mesmo nos bebês pequenos, durante o dia. Eu estou defendendo o uso de chupeta nos primeiros meses de vida para ensinar o bebê a dormir e poupar a mãe. Estou cansada de receber mãe exausta. Chega no consultório de olheiras, o bebê está com 40 dias e ela não dormiu uma só noite nesses 40 dias. Não é possível depois querer que essa mulher amamente e seja feliz. Não dá! Eu tiro a chupeta durante o dia quando o bebê vai para o chão, quando começa a sentar no chão, por volta dos seis meses. Então usa só para dormir. E dormiu, vai lá, 20 minutos depois, e tira. No primeiro e segundo mês, é isso, para ensinar o bebê a dormir.

Com o passar dos dias, como deve ser o intervalo das mamadas?

Eu começo fazendo um intervalo noturno de seis horas no final do primeiro mês. Até os 30 dias, eu falo que o bebê pode mamar uma vez no meio da noite, por volta das 3h da manhã. Mama entre 23h e meia-noite, depois às 3h e, depois, às 6h. Se acordar fora desse horário, chupeta e remédio para gases porque, muito provavelmente, são os gases. Do segundo mês em diante, eu vou diminuindo o horário da última mamada. Tira a mamada das 3h e começa a diminuir o horário da última mamada. De meia-noite, passa para às 23h, de 23h para 22h, de 22h para 21h, de 21h para 20h, de 20h para 19h, de 19h para 18h, 18h30… Porque o bebê precisa de 12 horas seguidas de sono noturno para poder crescer 100% do que a sua programação genética vai permitir.

Sobre a SMCC:

A SMCC é uma entidade associativa, que reúne milhares de médicos de Campinas e Região. Fundada em 1925, tem como objetivo promover o conhecimento científico entre os profissionais, oferecer benefícios e desenvolver projetos sociais direcionados à comunidade. É considerada a Casa do Médico de Campinas.

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