Coluna
O Filme: A Vigilante do Amanhã
O filme ora em cartaz intitulado A Vigilante do Amanhã de Rupert Sanders reinterpretando a história de um mangá conhecido como Ghost in the Shell, é visualmente muito bonito, com efeitos especiais em praticamente todas as cenas. Lembra de certo modo o filme Blade Runner quanto o aspecto sombrio das cenas, sobretudo quando aparece a cidade (Shangai).
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A história de ficção científica trata das tentativas futuras de usar cérebros humanos vivos em robôs, apostando que o corpo robótico teria grandes vantagens sobre o corpo humano e o cérebro agiria com a mente de uma pessoa acidentada, prestes a morrer, porém, com sua memória intacta. No caso, aconteceu com uma mulher. Mas, em vez de levar uma vida comum, a partir de sua experiência anterior, foi configurada para ser um soldado especial destacado para ações quase impossíveis. Neste filme, a personagem Motoko Kusanagi precisa acabar com um chefe da Yakuza que pretende acabar com uma firma de robótica ligada ao sistema policial. Como se trata de uma super-heroína, é fácil imaginar como o filme acaba.
Como em muitos filmes de ficção científica, sempre nos deparamos com problemas técnicos futuros misturados com problemas éticos e filosóficos. Por isso mesmo, esses filmes dão margens a muitas análises, interpretações e conclusões. No caso deste filme, gostaria de salientar uma questão ligada à linguagem, ao pensamento e à memória. Como seria uma pessoa se tivesse somente o cérebro de humano? O filme pressupõe que a vida intelectual da pessoa está no cérebro. O título em inglês usa o termo ghost pode ser entendido como espírito (cf. Holly Ghost: Espírito Santo), alma, mente, o que torna a pergunta feita acima mais desafiadora. O autor da história não está pensando apenas na memória estocada no cérebro, mas em algo mais desafiador: a própria alma da pessoa robotizada. Para tornar o filme mais atraente e realista, o corpo robótico é uma réplica do corpo original de mulher (Scarlett Johansson). Tudo para dar a aparência de um ser humano comum.
Como a história se desenvolve a medida que acontece, isso exige novas experiências e novos conhecimentos e habilidades. Isto significa que a pessoa continua aprendendo e criando novas memórias. Portanto, a mente ou a sede do pensamento está no cérebro, a não ser que o DNA ou a genética do cérebro tenham algum gene especial para comandar as associações da memória em uma lógica que permite a pessoa viver inteligentemente. Assim, o cérebro é visto como a sede da racionalidade (alma, mente).
A criatividade é o que define a inteligência e a inteligência é o que define a racionalidade. Será que o restante do corpo é dispensável, podendo ser substituído por uma estrutura robótica? Na série Buck Rogers, os mestres do universo estavam em relicários, com tecnologia para se comunicar com os humanos. Num caso e em outro, a comunicação com o mundo exterior é imprescindível. Mesmo com tecnologia robótica, a cérebro precisa do contato com o mundo exterior propiciado pelos sentidos. Ainda mais, o cérebro não vale muito sem a linguagem (mente) e um sistema linguístico que, como os sentidos, faça a interface entre o que se pensa e o que aparece na comunicação.
Só com o cérebro, certamente, não iríamos muito longe com a vida racional de que somos dotados. Talvez fosse mesmo melhor fazer um cérebro artificial, um supercomputador. Porém, resta ainda a dúvida colocada anteriormente segundo a qual bastaria um cérebro ativo para definir uma alma ou uma pessoa. Atrelada a essa ideia vem logo outra ligada à vida e à morte. Manter o corpo vivo pode ser mais complicado do que manter o cérebro vivo. Então, daí conclui-se que a imortalidade teria uma solução muito mais fácil do que pensamos comumente. A morte veria com a morte do cérebro. Hoje, adotamos esse critério, embora num contexto muito diferente.
Muitos órgãos e partes do corpo podem ser substituídos por transplantes ou mesmo por mecanismos médicos especiais. Na verdade, para continuarmos sendo nós mesmos, substituímos um órgão por outro de mesma função: não ficamos sem nada. Será que intuitivamente achamos que nossa alma é o nosso cérebro? Quando o legista retirou e guardou o cérebro de Einstein, ele pensava que estava guardando também a alma de Einstein, sua racionalidade ligada a um sistema linguístico que permitia que ele revelasse coisas incríveis?
A ficção científica é a obra literária mais criativa de todas porque precisa recriar tudo, às vezes até uma língua própria de alguns personagens, como no Senhor dos Anéis. A língua dos Klingons (Jornada nas Estrelas) ficou tão famosa que, hoje, existe uma gramática e um dicionário para quem quiser usá-la. Além disso, muitas invenções de que nos beneficiamos hoje vieram de realizações de coisas que só existiam nas mentes dos escritores de ficção científica.
Luiz Carlos Cagliari é professor da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara.
Coluna
A alimentação e a economia circular
Você já se perguntou de onde vem a comida que vai parar no seu prato? Se aquilo que você come vem de perto ou não? Se é mesmo saudável ou fresco? De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os alimentos in natura, ou minimamente processados, são a base ideal de uma alimentação adequada. Eles são obtidos diretamente de plantas ou animais, com o mínimo ou nenhum tipo de processamento.
Ao sairmos em busca desses ingredientes nas compras, nossa preocupação deve se estender para além do sabor e da qualidade. Ponderamos o preço dos produtos, a distância até o local de compra, o tempo de deslocamento, o que engloba a emissão de carbono neste transporte, e diversos outros fatores que fazem parte da equação de um consumo mais sustentável. Estes são somente alguns dos muitos aspectos que nos possibilitam pensar a relação entre alimentação e Economia Circular.
Ao falarmos sobre economia circular na alimentação, não podemos deixar de mencionar a importância de reduzir o desperdício e repensar o ciclo de vida dos alimentos. Isso inclui a maneira como lidamos com resíduos e embalagens. A busca por alimentos não embalados, ou que utilizem embalagens sustentáveis, em conjunto com a redução do desperdício são elementos-chave desta equação.
Ao olharmos para o nosso prato de comida, todos os dias, devemos celebrar. Ele é resultado do trabalho de dezenas, centenas de pessoas em parceria com o ambiente. Conhecer cada melhor toda essa cadeia, da produção ao eventual descarte, deve nos fazer refletir sobre questões éticas relacionadas à disponibilidade, ao acesso e, ao mesmo tempo, a todo o desperdício que ainda existe.
Afinal, a circularidade não se limita apenas à produção de alimentos, mas também ao que fazemos com as sobras de comida e embalagens após o consumo. A adoção de práticas de “lixo zero” em nossas casas e o apoio a iniciativas de reciclagem e reutilização de embalagens contribuem significativamente para a construção de uma economia mais circular e sustentável.
Podemos e devemos fazer melhores escolhas todos os dias. É um aprendizado permanente na direção de zerar a quantidade de resíduos que produzimos e garantir acesso a alimentação saudável e de qualidade para todos. Ou seja, uma alimentação circular enquanto garantia de qualidade ambiental e direito humano.
*Edson Grandisoli é embaixador e coordenador pedagógico do Movimento Circular, Mestre em Ecologia, Doutor em Educação e Sustentabilidade pela Universidade de São Paulo (USP), Pós-Doutor pelo Programa Cidades Globais (IEA-USP) e especialista em Economia Circular pela UNSCC da ONU. É também co-idealizador do Movimento Escolas pelo Clima, pesquisador na área de Educação e editor adjunto da Revista Ambiente & Sociedade.
Coluna
A vida é muito curta para ser pequena
Temos empregos que odiamos para comprar coisas que não precisamos.
Tyler Durden, de “O clube da Luta”
Outro dia eu tinha dezessete anos, estava aprovado no vestibular e tinha a vida toda pela frente; hoje acordei com sessenta anos e, olhando para trás, percebi que “de zero a dez” minha vida é no máximo nota quatro.
É verdade que tenho filhos de caráter e formação extraordinários, mas o mérito é grandemente da Celinha, do Notre Dame e da espiritualidade que envolvia a escola, do CISV, que abriu um mundo de possibilidades para eles e das relações afetivas e acolhedoras da família.
Transcrevo os versos do Cazuza, Poeta da minha geração, para descrever o que senti na manhã que acordei surpreso com sessenta anos:
Os meus sonhos
Foram todos vendidos
Tão barato que eu nem acredito
Ah, eu nem acredito
Que aquele garoto que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Frequenta agora
As festas do Grand Monde
Fato é que o tempo aqui no planeta é bem curtinho e acabamos desperdiçando o nosso tempo em coisas das quais não gostamos e deixando “para depois” aquilo que de fato amamos, sentimento sintetizado pelo poema dos Titãs:
Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Assustado com a minha condição de idoso – definida pela Lei Federal 10741/2003, mais conhecida como Estatuto do Idoso -, tenho “pensado na vida”, no caminho que percorri, no caminhar e nas companhias.
A nossa vida é marcada pelo tempo e pelo medo, pelo tempo que nos resta e pelo medo de não alcançarmos sucesso; tenho tido flashes de momentos que tiveram ou tem significado na caminhada; lembrei de uma conversa que tive com o meu tio Chico dentro da piscina da casa dele; ele me perguntou: “Você está feliz com a faculdade, gostando do curso?”, respondi afirmativamente, mas ressalvei “tenho medo apenas da mediocridade”; ele respondeu: “esse é um medo bom. Estude, estude mais e depois estude mais um pouco, mas não apenas Direito”, depois desse conselho o medo passou.
Mas o fato é que, aos sessenta anos, o tempo que gastei, cooptado pela lógica médio-classista, me fez correr atrás de coisas que não tem relevância alguma; e, o que mais tem “doído”, é a certeza de que gastei tempo demais colocando meu apenas o conhecimento e a alma para solucionar questões que não me diziam respeito, especialmente no âmbito profissional; e a retribuição? nada além dos honorários e algumas vezes nem isso.
O susto me alertou não apenas de que a vida é curta, mas que eu gastei tempo demais com coisas desnecessárias; a ideia de finitude e mortalidade não me perturba, apenas não quero mais gastar tempo de forma equivocada. A consciência da mortalidade não é negativa, pois como disse o Cortella: “é essa consciência que nos desperta da letargia”, algumas pessoas, contudo – e não são poucas – se distraem em relação a isso e como escreveu Chico Buarque:
Vida, minha vidaOlha o que é que eu fizDeixei a fatia mais doce da vidaNa mesa dos homens de vida vaziaMas, vida, ali, quem sabe, eu fui feliz
Tive uma sócia, de triste lembrança, que dizia: “não conheço ninguém que goste tanto de voltar para casa após o trabalho”, ela dizia isso porque, raramente, eu participava de happy hours; de fato, prefiro voltar para casa; gostava de encontrar os meninos, a Celinha, o Jow, o Tommy, o Ditão e o Marreta (nossos cachorros, que estiveram conosco por todo o tempo de suas vidas), meus livros e o caos criativo e criador que uma casa cheia de histórias nos oferece.
Passei tempo demais vivendo uma vida pequena, no ritmo das pequenas coisas falsamente urgentes e deixando de lado o que é de fato importante. Podemos ser condescendes conosco – o que é, inclusive uma tendência humana, tão humana -, e dizer que vivemos um tempo quem que tudo é apressado, que temos uma agenda lotada de compromissos profissionais e sociais, que a conectividade exige de nós insanidade, etc e tal; tudo isso é verdade, mas o fato é que tudo na vida são escolhas nossas.
Escolhas ruins, nos levam a caminhos ruins e a resultados piores ainda.
Observo as novas gerações, escravos e escravas do número de “likes” e “unlikes” que se tem, isso faz com que haja não só ausência de tempo, mas uma perda de tempo. Não se trata de afirmar que toda rede social e tecnologia é ruim e seja, em si, uma perda de tempo, mas a não utilização com parcimônia, inteligência e uma medida boa, faz com que se perca um tempo imenso ao dar retorno apenas para não chatear a outra pessoa. Isso faz com que, a vida que é curta, vá se apequenando exatamente pela ausência de capacidade de cuidar daquilo que é importante. Mas a questão do uso da tecnologia vamos tratar noutro momento.
A reflexão de hoje caminha, mesmo que caótica, para chegar a uma frase de Benjamin Disraeli, 1.º Conde de Beaconsfield, que foi um político Conservador britânico, escritor, aristocrata, além de Primeiro-Ministro do Reino Unido em duas ocasiões: “A vida é muito curta para ser pequena”.
Pedro Benedito Maciel Neto, 60, advogado e pontepretano, sócio da www.macielneto.adv.br – [email protected]
Coluna
Combate à Prostituição Infantil: Desafio Brasileiro
O Brasil enfrenta um desafio persistente no combate à prostituição infantil, um problema social grave que afeta crianças e adolescentes em todo o país. Segundo dados da Polícia Federal, as ocorrências de exploração sexual de menores têm mostrado números alarmantes, exigindo ações efetivas tanto das autoridades quanto da sociedade civil. A prostituição infantil, além de ser um crime hediondo, viola direitos fundamentais, colocando em risco o futuro de muitos jovens brasileiros.
A complexidade desse fenômeno é evidente, dada a sua relação intrínseca com fatores como pobreza, falta de educação e vulnerabilidade social. Em muitos casos, crianças são coagidas ou seduzidas para a prática, encontrando na prostituição uma falsa saída para problemas econômicos e familiares. O governo brasileiro, em parceria com organizações não-governamentais, tem desenvolvido programas de prevenção e conscientização, visando educar a população sobre os perigos e as consequências legais envolvidas.
As operações de repressão, lideradas pela Polícia Federal em conjunto com as polícias estaduais, são fundamentais para o combate direto à prostituição infantil. Através de investigações e ações de inteligência, muitas redes de exploração sexual de menores têm sido desarticuladas. Estas operações frequentemente revelam a conexão de tais redes com outros crimes, como tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, ampliando o escopo da luta contra a exploração sexual infantil.
A legislação brasileira é rigorosa no que diz respeito à prostituição infantil. A pena para quem explora sexualmente crianças e adolescentes pode chegar a 10 anos de prisão. No entanto, a eficácia da lei depende de sua aplicação consistente e de um sistema judiciário ágil. O fortalecimento das instituições responsáveis por garantir a justiça é, portanto, um aspecto crucial na luta contra essa chaga social.
Além da ação governamental e policial, é essencial o envolvimento da sociedade. A conscientização pública sobre a gravidade da prostituição infantil e a promoção de uma cultura de proteção aos direitos das crianças e adolescentes são passos fundamentais para erradicar esse mal. O engajamento da mídia, a educação e o apoio da comunidade são ferramentas valiosas nesse processo.
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