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Ainda Estou Aqui

No dia 2 de março de 2025, o Brasil estará com os olhos voltados para a cerimônia do Oscar. O filme ‘Ainda Estou Aqui’, dirigido por Walter Salles e com um elenco de peso, concorre em oito categorias e tem grandes chances de levar a estatueta. A obra, que aborda questões históricas e emocionais de forma profunda, conquistou o público e a crítica. Uma adaptação cinematográfica do livro homônimo escrito por Marcelo Rubens Paiva, um dos personagens do filme. A história narra a trajetória de uma família carioca durante a ditadura militar e a busca incansável de Eunice Paiva interpretada por Fernanda Torres por justiça pela morte de seu marido o ex deputado Rubens Paiva, interpretado por Selton Melo. O livro escrito em 2015, tornou-se um marco na literatura brasileira e agora ganhou vida nas telonas, pelas mãos de Walter.

Marcelo Rubens Paiva iniciou sua trajetória como escritor ainda jovem, em 1982, com a publicação de “Feliz Ano Velho”, um livro que narra o acidente que o deixou tetraplégico. A obra, que se tornou um marco da literatura brasileira, ganhou o Prêmio Jabuti em 1983 e foi adotada como leitura obrigatória para o vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul entre 2021 e 2023.

Em 2015, Paiva publicou “Ainda Estou Aqui”, um livro que aprofunda a sua história pessoal e familiar, abordando temas como a ditadura militar e a luta pela memória. A obra, que serviu de inspiração para o filme de mesmo nome, demonstra a evolução do autor como escritor e a sua capacidade de transformar experiências dolorosas em arte.

Ao dedicar ‘Ainda Estou Aqui’ a suas irmãs, Veroca, Eliana, Nalu e Babiu, Marcelo eternizou um amor fraternal que os unia. A obra, escrita enquanto a mãe, Eunice, enfrentava os avanços do Alzheimer, tornou-se um testamento de afeto e resistência. Eunice, uma mulher forte e determinada, dedicou sua vida à busca por justiça. Após o sequestro, tortura e assassinato de seu marido, o deputado Rubens Paiva, por militares dentro de dependências do regime militar, ela se tornou uma incansável defensora dos direitos humanos e mesmo diante da dor e da perda, nunca desistiu de encontrar a verdade e de levar os culpados à Justiça ressaltando a importância de manter viva a memória dos que foram silenciados.

A arte, seja literária, cinematográfica ou televisiva, é uma poderosa ferramenta de luta. Ao contar a história de Rubens Paiva e de sua família, “Ainda Estou Aqui” não apenas entretém e emociona, mas também denuncia e conscientiza. Com mais de 2 milhões de espectadores e incontáveis leitores, essa história prova que a busca por justiça e verdade não se esgota e tem o condão de denunciar, alertar e não permitir a reescrita da história por ninguém, muito menos por aqueles que a reescrita enseja anistia.

Em breve, talvez poderemos celebrar um Oscar para o cinema brasileiro. Ao reconhecer ‘Ainda Estou Aqui’, O Oscar, além de honrar uma obra cinematográfica, reforça a necessidade de narrarmos nossas próprias histórias e mantermos viva nossa identidade. Neste dia, nem todos os ‘filhos deste solo és mãe gentil’ celebrarão, mas cada um carrega consigo as razões de seu júbilo ou reflexão.

Lineu Santos

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