As dançarinas Elisa Costa, Mariana Jorge e Nara Cálipo, do Núcleo BPI de Campinas/SP, apresentam no dia 30 de setembro, sábado, às 20h, o espetáculo de dança “Mulheres de Arrimo” na Escola de Artes Augusto Boal, em Hortolândia/SP. Os ingressos são gratuitos e mais informações podem ser conferidas no Instagram do grupo, em @mulheresdearrimo. (Veja a programação abaixo).
Em “Mulheres de Arrimo” as três dançarinas convidam o público a refletir e sentir, através do contato com a dança contemporânea, sobre as diferentes maneiras pelas quais as mulheres estão inseridas nas estruturas do patriarcado e do capitalismo – e como isso as afeta, individual e coletivamente. No início de setembro, o grupo realizou uma série de apresentações com plateias cheias em diferentes teatros de Campinas.
“De repente, nos vemos como arrimo de uma estrutura que não foi feita por nós e nem para nós. Assumimos o desmanche para poder dançar aquelas que são exiladas. Damos permissão para que bailem as nossas partes rejeitadas, não aceitas e que não cabem nas realidades que nos foram impostas”, conta o grupo. “Este é um convite ao delírio para responder à urgência de transgredir normas enrijecidas, através do corpo em movimento. Entre arrimar e desmoronar se faz o pulso de nós três, para que possamos encarnar, a cada momento, a força truculenta de estarmos vivas.”
Para a apresentação o trio conta com o apoio primordial do Núcleo BPI, do qual fazem parte. Através de seu método criado pela profª. Dra. e diretora artística Graziela Rodrigues, a equipe realizou diversas pesquisas, rastreamentos e idas a campo que visaram um encontro com as ‘mulheres de arrimo’ presentes nas ruas do centro da cidade, em comunidades e acampamentos.
“O que se vê neste trabalho é uma força de se colocar em pé, que se sustenta precariamente e desarrima, um movimento de destruição e reconstrução constantes”, explica Mariana Jorge, uma das integrantes do coletivo. “Queremos com este espetáculo provocar reflexões sobre construções sociais, mas fazendo isso também com um certo humor, uma ironia e uma ruptura”.
O projeto “Mulheres de arrimo: transgredir para amar” é uma realização do Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas.
Pesquisas de campo
Muitas mulheres – e suas vivências – compõem, de forma subjetiva, o espetáculo “Mulheres de Arrimo”. Como parte do Método Bailarino-Pesquisador-Intérprete, aplicado pelas dançarinas no processo de construção desta obra, as idas à campo foram realizadas com objetivo de deslocar dos ambientes normativos da dança e das concepções estáveis de corpo e movimento. Assim, a feitura da dança foi concebida a partir da relação com saberes situados em contextos invisibilizados.
Tais visitas foram realizadas no Acampamento Marielle Vive, do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), localizado em Valinhos/SP, e também nas ruas do Centro de Campinas – mais especificamente em contato com mulheres em situação de rua e em vivência imersiva na tradicional lavagem das escadarias da Catedral Metropolitana. Além disso, também foram estabelecidos vínculos com cidadãs que passavam pelas ruas e no Mercado Municipal, local de intenso fluxo de pessoas na cidade.
“O encontro com outras mulheres, em situações radicalmente diferentes das nossas, nos acorda. Ressoa em nossas partes sufocadas e escancara uma força de ruptura, de dizer ‘não quero’, de querer fazer diferente, amar diferente, abrir o peito, estar mais viva. Temos o direito de ser muitas, para além do que esperam de nós. Ressoar com outras mulheres e com a diversidade delas acorda partes importantes de mim”, afirma Mariana Jorge.
Arrimo em cena
Elisa Costa conta que o processo criativo tem permitido ao grupo dançar as muitas mulheres que habitam cada dançarina. “Várias vezes a gente se sente despedaçada e ficamos falando que temos que juntar os pedaços e continuar. Nessa apresentação, nós nos permitimos estar fragmentadas e reconhecer cada parte, aceitar o desmonte e fazer brilhar cada caco no momento que for propício, possível ou necessário”, diz a dançarina. “Existe uma generosidade no tanto que a gente se abre emocionalmente neste espetáculo, com tudo o que somos – e nós somos muito diferentes, mas em alguns momentos, de repente, a gente vira uma só”.
Segundo Nara Cálipo, a apresentação mostra uma certa rebeldia, um exercício de liberdade e de transgressão. “Há um conflito entre as estruturas impostas e nossos desejos, e isso nos arrebata de forma truculenta. Tudo isso precisa ser dito, e desta maneira. A sociedade nos constrange constantemente e carregamos conosco várias trajetórias, discutindo e dialogando com as realidades que a gente se propôs a tomar contato”.
Sobre as dançarinas
Elisa Costa: Doutora em Artes da Cena pela Unicamp. Mestra em Artes da Cena e graduada em Dança pela mesma Universidade. Praticante de Somatic Experiencing (SE) em nível Avançado 2.
Atua como dançarina, intérprete-criadora, pesquisadora, direção e orientação de trabalhos artísticos, dentre outras funções relacionadas a processos criativos em dança. É professora de Artes no Ensino Médio da Escola Técnica de Hortolândia e professora no curso Técnico de Dança da ETEC de Artes (São Paulo), Centro Paula Souza. Integra o Grupo de Pesquisa “BPI (Bailarino-Pesquisador-Intérprete) e Dança do Brasil” e o Núcleo BPI de produções artísticas, onde vem realizando pesquisas e processos criativos diversos.
Realiza trabalhos voltados à Educação na OSC Centros Etievan, na qual faz parte do time de educadores em formação contínua. Atua também como terapeuta somática de SE.
Mariana Jorge: Dançarina, pesquisadora e professora. Doutoranda e mestra em Artes da Cena pela Unicamp, onde também se graduou em Dança (bacharel e licenciatura) e em Pedagogia.
Desde 2010 integra o Núcleo BPI e o Grupo de Pesquisa e Criação em Dança: Bailarino-Pesquisador-Intérprete (BPI) e a Dança do Brasil, dirigido por Graziela Rodrigues. Com o Núcleo BPI desenvolve processos criativos e performance de dança e pesquisas de campo no Brasil.
Esteve como arte educadora do Curso Profissionalizante em Dança da Escola de Artes Augusto Boal – Secretaria de Cultura de Hortolândia. Também atuou como orientadora artística da 6ª/7ª/8ª edição do Programa de Qualificação em Artes – realizado pela Poiesis Gestão Cultural em parceria com o Governo do Estado de São Paulo.
Nara Cálipo: Artista e pesquisadora da dança, doutora e mestra em Artes da Cena pelo Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena da Unicamp e graduada em dança pela mesma Universidade. Ao longo dos 11 anos de formação acadêmica, sua investigação esteve nos processos artísticos, sobretudo a partir do processo do Bailarino-Pesquisador-Intérprete.
Desenvolveu inúmeras pesquisas de campo no Tocantins, junto às mulheres quebradeiras de coco babaçu, à manifestação religiosa do Terecô e também junto às artesãs do Capim Dourado, a partir das quais elaborou também obras artísticas. Atuou em diversos processos como bailarina e assistente de direção junto ao Núcleo BPI, dentre eles “O Corpo como Relicário”, contemplado pelo ProAC.
Núcleo BPI
O Grupo de Pesquisa Bailarino-Pesquisador-Intérprete e Dança do Brasil – Núcleo BPI é composto por um coletivo de artistas, educadores e pesquisadores, com sede principal na cidade de Campinas, que possuem um compromisso com a produção e disseminação do Método BPI.
Foi criado por Graziela Rodrigues e conta atualmente com um núcleo estável de bailarinos-pesquisadores e também com estudantes em formação no BPI. Possui vínculo institucional com o Departamento de Artes Corporais do Instituto de Artes da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que se caracteriza como principal sede das produções. Entretanto seus integrantes levam o Método BPI para seus outros ambientes de atuação, ampliando o alcance e a disseminação das ações do grupo.
As propostas artísticas do Núcleo BPI trazem uma estética contemporânea diferenciada, na qual um Brasil periférico está presente, sem haver uma apropriação, reprodução e estilização das manifestações populares, mas sim, um corpo residual e afetivo. Todos os espetáculos dentro do Método BPI estiveram ligados a pesquisas de campo de segmentos sociais e/ou manifestações populares do Brasil.
Ficha técnica
Dançarinas-criadoras: Elisa Costa, Mariana Jorge e Nara Cálipo | Realização: Núcleo BPI | Assessoria artística: Graziela Rodrigues | Produção: Yasmin Berzin | Comunicação: Miguel Von Zuben | Figurino: Warner Júnior | Iluminação: Francisco Barganian | Trilha sonora: Rodrigo Hara | Registro audiovisual: Pedro Spagnol | Design: Anna Kelmer
Programação
Hortolândia – Escola Augusto Boal
Data: 30/set (sábado), às 20h
Endereço: Rua Casemiro de Abreu, Jardim Amanda II
Ingressos: Grátis
Acessibilidade: Não | Classificação etária: 14 anos | Duração: 50min
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