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Quando vamos parar de culpar os games por crimes trágicos?

Assassin's Creed

A história de Marcelo Pesseghini, o garoto de 13 anos que é principal suspeito de ter assassinado dos pais, parentes e em seguida ter se suicidado, é notícia em todos os lugares. Qual o motivo do menino simplesmente ter se transformado em um assassino em plena adolescência? Como sempre nesses casos, vasculha-se toda vida pessoal da família e do jovem em busca de respostas. Logo, vão ao seu diário pessoal mais fácil de encontrar: o Facebook.

Ao olhar a página do garoto, encontra-se logo uma imagem do jogo Assassin’s Creed em seu foto de perfil. Há quem diga que o perfil é fake. Mesmo assim, se torna um prato cheio para o sensacionalismo atrelar o jogo com a possível personalidade assassina do menino. Programas chegaram a mostrar na TV a capa do jogo como um possível culpado. Este tipo de comportamento não é novo, e sempre aumenta, equivocadamente, o preconceito constante contra os jogos.

O tema é recorrente na mídia e assim aconteceu com outras tragédias, como o tiroteio em Oslo. No caso, evidências mostravam que o atirador, Andrew Behring Breivik, jogava games como Call of Duty e World of Warcraft. Na época, o psicólogo da Texas A & M University International, Christopher Ferguson, fez uma análise sobre o tema:

Eu sei que é um pouco controverso dizer isso, mas há um certo tipo de racismo na resposta da mídia a esses assassinatos. Quando tiroteios acontecem em uma cidade do interior em uma escola de minorias, ninguém culpa os games. Mas quando essas coisas acontecem nas escolas de maioria branca e nos subúrbios, as pessoas começam a surtar e os games são inevitavelmente culpados. Eu acho que há um certo elemento de racismo ou ignorância nesse caso.

Call of Duty - Black ops 2

A repercussão negativa dos jogos também acaba criando preocupação nos governos. Barack Obama solicitou no início deste ano uma pesquisa para entender qual a relação do videogame com a violência. Isso aconteceu após os atentados de Newtown, quando Adam Lanza matou 20 crianças e seis adultos com um rifle. Portanto, o debate é global.

No Brasil, dados do Ibope apontam que 41% das pessoas nas principais regiões metropolitanas possuem um console de videogame. Isso dá aproximadamente 69,5 milhões de brasileiros. É muita gente. E tem mais: desses, 2/3 afirmam preferir jogos de ação – como o que era jogado por Marcelo. E aí?

Mas, do mesmo jeito que Marcelo jogava Assassin’s Creed, poderia jogar Little Big Planet. Do mesmo jeito que eu, quando tinha meus 11 anos, jogava Mortal Kombat e Yoshi’s Story. O fato de colocar a imagem no perfil mostrava que ele gostava do jogo, assim como milhares de meninos com a mesma idade ao redor do mundo. Um jogo violento não implica em tendências assassinas. A gente já sabe disso, então por que continuamos a botar a culpa de casos como este nos games?

O videogame ajuda a construir a educação e a identidade de uma pessoa? Sim, ajuda. Do mesmo jeito que a televisão, o jornal e a internet. E, além de não poder culpar os jogos por casos extremos como a história de Marcelo Pesseghini — que ainda pode ter uma reviravolta – e ao contrário do que pensa a ministra Marta Suplicy, game é cultura.

Fonte: Youpix

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