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Crônica: Sumarezinho, segurança ou cenário de conveniência?

No Jardim Sumarezinho, os dias sempre amanheceram com uma tranquilidade inquieta, como quem caminha na linha tênue entre o silêncio das ruas e o barulho de preocupações não ditas. As calçadas, marcadas pelo tempo e pelas histórias dos moradores, sempre presenciaram mais cochichos sobre insegurança do que a presença de qualquer autoridade. Era assim que o bairro vivia: esquecido, mas resistente.

Mas então, um dia, as coisas mudaram. Não foram reformas, nem melhorias prometidas em campanhas. Foi o som das sirenes, o piscar das luzes azuis refletindo nas fachadas, e os veículos da Guarda Municipal cruzando cada esquina como se estivessem finalmente descobrindo aquele pedaço da cidade. “Enfim, lembraram de nós”, comentavam os mais otimistas. Mas os olhares desconfiados dos mais experientes sabiam que nenhuma mudança tão repentina acontecia por acaso.

Não tardou para que a novidade revelasse seu motivo. A nova Prefeitura, imponente e moderna, ergueu-se ali perto, como um farol chamando atenção para a área. E com ela, a segurança que antes parecia um sonho distante finalmente chegou. Só que não para todos. Enquanto o Sumarezinho agora recebia patrulhas, outros bairros seguiam invisíveis, vivendo o mesmo abandono que o Jardim conhecia tão bem.

Entre os moradores, as opiniões se dividiam. Para dona Lurdes, que vende bolos na esquina, as rondas eram um alívio. “Finalmente posso sair de casa à noite sem tanto medo”, dizia, enquanto ajeitava o avental. Já seu Alfredo, aposentado e com décadas de histórias nas costas, enxergava além. “Essas viaturas não estão aqui por nós, estão pela Prefeitura. Somos só espectadores nessa encenação de segurança.”

As sirenes que antes traziam uma sensação de proteção começaram a soar como lembretes incômodos de que, no jogo das prioridades, nem sempre os moradores são os protagonistas. O Sumarezinho agora tinha segurança, mas será que tinha pertencimento? E os outros bairros, tão carentes quanto?

No fundo, a chegada da Guarda ao Sumarezinho e bairros vizinhos não era apenas sobre segurança; era sobre o velho dilema das cidades: quem é lembrado e quem segue esquecido. Assim, o bairro, com suas calçadas irregulares e corações resilientes, continuava sendo o palco de mudanças que, como as sirenes, eram passageiras e, talvez, um pouco barulhentas demais para quem só queria paz.

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