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Farmácia de vereador cobra para guardar carta de vizinho

Farmácia de Carmo Luiz (PSC) mantém cadastro de moradores que não possuem endereço completo

farmacia de vereador cobra para guardar carta dos correios

O vereador Carmo Luiz Gregório da Silva, o Carmo da Farmácia (PSC), recebe R$ 28 mil por ano para guardar em sua drogaria cartas de moradores da região do Campo Belo, em Campinas, que não têm endereço completo.

Para que as correspondências sejam recebidas pelos funcionários da farmácia um membro da família paga uma taxa de R$ 70,00 anual, que ele considera simbólica, para abrir um cadastro — que dá direito a uma pasta para guardar as cartas e outros quatro familiares ou amigos também podem utilizar o serviço. Atualmente são 400 cadastros, atendendo mais de 2 mil moradores da região.

Sem identificação, as ruas dos bairros — formados há cerca 17 anos — não existem para os Correios e os carteiros não conseguem fazer as entregas de porta em porta. Com isso, estabelecimentos da região funcionam como verdadeiras agências da estatal, sendo que alguns cobram e outras oferecem os serviços gratuitamente, apenas para ajudar a população.

A prática, ilegal conforme o órgão postal, é comum na região e os moradores não reclamam de pagar porque veem nela a única opção de receberem suas correspondências sem nenhum tipo de problema.

“A gente paga uma taxinha no fim do ano e as entregas ficam lá na farmácia. Pra mim é fácil porque fica bem perto da minha casa. Vira e mexe eu passo lá para ver se chegou alguma coisa para mim”, disse uma das moradoras ouvidas pela reportagem.

“Tem gente que não cobra, mas aí é meio desorganizado. Qualquer um pode mexer na caixa e pegar as cartas dos outros. Eu prefiro pagar para ter uma garantia de que vou receber tudo certinho, num lugar em que há uma pessoa de confiança para receber e me entregar as minhas coisas”, falou outro morador.

Um outro caso é de um comerciante que percebeu a carência da região e implantou, há cerca de seis meses, um sistema leva e traz dos serviços dos Correios. “Eu levo e trago as correspondências de quem precisar”, explicou Manoel da Mata Araújo. Ele cobra uma “taxinha” de R$ 3,00 para cada serviço.

Ilegal

De acordo com Marcelo Monteiro, advogado e professor de direito da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), o serviço de entrega de correspondência é exclusivo dos Correios e a atitude desses estabelecimentos, mesmo os que não cobram, é ilegal.

“Quando a entrega não é possível porque falta a identificação das ruas, como nesse caso, o ideal é que a pessoa informe o endereço de um familiar ou, se for possível, compre uma caixa postal dos Correios. No caso da cobrança pela entrega está mais errado ainda, porque a pessoa está tendo lucro com a ilegalidade.”

O vereador justificou a cobrança como sendo necessária para manter a ordem e garantir a entrega das correspondências. “É um valor simbólico e necessário para manter a ordem.” Os funcionários da farmácia não quiseram falar sobre o assunto.

A assessoria de imprensa dos Correios confirmou que, apesar de comum em regiões carentes, a prática é ilegal já que o serviço de entrega de correspondência é exclusivo da empresa.

Ao menos desta vez, o problema será resolvido em breve. Conforme revelou o Correio na edição desta terça-feira (20), a partir do próximo dia 15 de outubro os cerca de 7 mil moradores da região, que inclui os bairros Cidade Singer II, Dom Gilberto, Campo Belo II e Puccamp, terão endereço completo e receberão suas correspondência e encomendas em casa.

A escolha dos nomes das ruas coube aos integrantes das associações dos bairros e aprovados pela Câmara. As placas foram confeccionadas pela associação dos bairros com colaboração dos comerciantes.

Intenção sempre foi ajudar, diz Carmo

Carmo da Farmácia afirma que não tinha conhecimento da ilegalidade e que sua intenção sempre foi ajudar. Segundo ele, quando o serviço era oferecido gratuitamente, não havia o cadastro dos moradores, o que gerava muita confusão.

“Qualquer um chegava e mexia nas correspondências alheias, que acabavam sumindo e gerando reclamações. Por isso tive a ideia de organizar o serviço e garantir que não haveria problemas com as correspondências. Até porque não cuidamos só das correspondências dos Correios, recebemos qualquer tipo de encomenda, inclusive equipamentos eletrônicos”, explicou.

O parlamentar disse que recentemente teve de demitir um funcionário por causa do sumiço de um tablet. “Temos os cadastros, somos organizados e registramos tudo que recebemos. Foi fácil identificar quem pegou o equipamento. O funcionário foi demitido e compramos outro tablet para o morador.”

De acordo com Carmo, seria impossível manter o serviço sem a cobrança, que para ele é simbólica. “São apenas R$ 14,00 por pessoa, por ano. Eu tenho funcionários que perdem horas do dia para organizar as pastas dos moradores e registrar o material recebido. Uso o dinheiro arrecadado para pagar os próprios funcionários. Nunca tinha feito essa conta e também não sabia que isso era ilegal. Caso seja preciso, paro hoje mesmo de oferecer o serviço”, disse. “Se dividir por mês (o valor total recebido somando todos os beneficiários, de R$ 28 mil), dá pouco mais de R$ 2 mil.”

O vereador ressaltou que nunca quis se beneficiar com a cobrança da taxa e que sempre lutou para melhorar a vida dos moradores da região. “Inclusive, eu estive pessoalmente em Brasília para falar com o presidente dos Correios. Eu sempre quis que os carteiros chegassem às casas das pessoas e participei ativamente da luta por essa conquista. Agora, eles terão esse benefício”, concluiu.

O vereador nasceu em Presidente Epitácio (SP), em 1970. Mudou-se para Campinas com seus pais no mesmo ano. Aos 12 anos, começou a trabalhar em uma drogaria. Em 1997 abriu a própria farmácia na região do Campo Belo, o que rendeu-lhe o apelido de Carmo da Farmácia.

Em 2008 foi candidato a vereador pela primeira vez e recebeu 2.736 votos, o que o levou a 1º Suplente. No ano passado, foi eleito para uma vaga no Legislativo com 4.497 votos.

Fonte: Correio Popular/RAC


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