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Mulheres rompem barreiras e ocupam cada vez mais espaço na arte do graffiti

Três musas do talento de desenhar com spray marcarão presença no 5º Jacuba Festival de Graffiti que será realizado, neste final de semana, em Hortolândia

Mulheres artistas do graffiti rompem barreiras e ocupam cada vez mais espaço na arte de desenhar com spray, uma atividade que ainda é dominada por homens. Nos muros das cidades, elas desenham o cotidiano, a natureza e a luta por respeito e igualdade. Três dessas musas da arte urbana marcarão presença no 5º Jacuba Festival de Graffiti que será realizado, neste final de semana, em Hortolândia: Nicolly, a Lua (Hortolândia), Chermie (Amazonas) e Ludmilla (Tocantins).  Elas contam como enfrentam as barreiras do machismo e mostram que o talento para o graffiti não tem identidade de gênero.

Pioneira na cena da arte urbana no Amazonas, Chermie Ferreira, 34 anos, foi a primeira a fazer um festival de grafitti na região norte com foco nas mulheres. De origem indígena, a artista é idealizadora do primeiro festival de graffiti internacional para mulheres, o Graffiti Queens Festival, que acontece em São Paulo, e o festival internacional de grafite feminino Yapai Waina que tem como sede o Estado do Amazonas.

Para Chermie a arte do graffiti é um instrumento para as mulheres romperem barreiras e ocupar as ruas, historicamente dominada pelos homens. “A gente sofre com o machismo. O graffiti é algo muito público e, nós, mulheres, fomos criadas para ficar dentro de casa e não para estar na rua. Inicialmente, o que me despertou para o grafitti não foi só fazer o desenho, mas estar na rua, ocupar esses espaços (públicos) que para nós mulheres são negados”, observa.

A grafiteira e muralista, que começou na arte do graffiti aos 16 anos, retrata em suas obras a cultura e vivência nortista, sua raiz ribeirinha e a valorização do povo indígena Kokama, com destaque para a força da mulher nas tribos. Charmie é uma das artistas presentes no Beco do Batman, a famosa galeria de arte urbana a céu aberto localizada na Vila Madalena, em São Paulo, cidade onde ela mora atualmente.

Há dois anos, a jovem Nicolly da Costa Fontes, 19 anos, moradora de Hortolândia, se dedica à arte de desenhar com spray. Lua, como é conhecida no mundo do graffiti, diz que o maior desafio como mulher “é ter que se esforçar além para ter o mínimo de reconhecimento e respeito” no ambiente masculino.

“Muitos homens duvidam da nossa capacidade por sermos mulheres. Então, assim, comecei a entender por que nos eventos colaborativos dos quais participei no início sempre tinha somente 3 ou 5 meninas numa escala para 20 artistas homens”, assinala.

Lua desenvolve sua arte em letras utilizando os elementos da sua TAG (assinatura) e, agora, começa a desenvolver a técnica para desenhar personagens. Em seus trabalhos busca deixar mensagens sobre a importância e a grandeza da presença feminina, nas suas diversas fases, assim como a Lua.

PÁSSAROS NOS MUROS

Na arte do grafitti desde 2016, Ludmilla Weber de Oliveira, 28 anos, bióloga especialista em pássaros, conhecida como LudBird, que mora em Palmas, no Tocantins, enumera alguns obstáculos para a mulher conquistar seu espaço no graffiti. “Assim como lutamos pela igualdade de gênero em todos os ambientes e, principalmente, relacionado ao trabalho, lutamos por ela também no graffiti, que é uma área dominada pelo masculino. Enfrentamos obstáculos que 90% das vezes não existem na vida de um homem (filhos, serviços domésticos, sobrecarga, excesso de trabalho, jornadas duplas, empregos principais e graffiti como secundário). Para pintar na rua, temos que escolher a roupa que usar, pensar no local e ir acompanhada porque o assédio e o perigo que a mulher corre sozinha é constante”, descreve.

Além disso, LudBird diz sentir uma certa desvalorização comercial do trabalho das artistas. “Para a mulher no graffiti existe ainda diferença no valor que é dado nas artes comerciais feitas por nós em relação a dos homens, já passei por esta situação”, conta.

A bióloga traz nas suas obras elementos da natureza como aves, animais e plantas. Seu estilo é neotradicional, sem contornos, baseado em elementos da natureza e desenhos animados. Sua primeira experiência como artista foi aos oito anos de idade, quando pintou o fundo do mar numa tela com tinta óleo.

Em 2016, conheceu a arte do graffiti, por meio de coletivos de hip hop dos quais participa. “Foi quando comprei minhas 10 primeiras latinhas de spray. Fiz vários desenhos. A minha primeira contratação como artistas foi para pintar a parede de uma hamburgueria, fiz um desenho bem simples”, lembra a diretora e organizadora do maior evento de arte urbana do Tocantins, o PMW Street Graffiti.

O FESTIVAL

O 5º Jacuba Festival de Graffiti é uma realização da Prefeitura de Hortolândia, por meio da Secretaria de Cultura, com coordenação dos artistas Kranium e Cabelin. O evento será na Unidade Cultural Arlindo Zadi, no Jardim Amanda, neste sábado e domingo (20 e 21-08), das 9h às 17h. A classificação é livre, permitida para todas as idades, com entrada gratuita. Participarão do festival cinco artistas urbanos de diferentes estados: Chermie (Amazonas), Korea (Sergipe), Veio Art (Recife), LudBird (Tocantis) e Ramon Phanton (Goiás). Também participarão do festival três artistas da região – Q.Pirigo (Monte Mor), Lua e Gui Nature (Hortolândia). Juntos, por meio da arte coletiva, os artistas produzirão um mural de cerca de 50 metros quadrados. Nos dois dias do festival, haverá food trucks, animação com DJ e feira de exposição dos trabalhos dos artistas para comercialização.

Jacuba Festival de Graffiti valoriza

participação feminina desde a 1ª edição

Desde a primeira edição do Jacuba Festival de Graffiti, os organizadores se preocupam em preparar os eventos com estrutura adequada para receber artistas mulheres. De acordo com Leandro Kranium, um dos coordenadores do festival, o objetivo é criar condições para que o evento se torne cada vez mais plural e inclusivo.

Esse cuidado, conta Kranium, vem da vivência da sua equipe nos festivais de graffiti pelo Brasil, da constatação da participação majoritariamente de homens nesses eventos, além da escuta das queixas de artistas mulheres. Elas assinalam a necessidade de alguns cuidados para receber o público feminino como alojamento separado, espaço para quem vem com família, além da pluralidade de pessoas trabalhando no projeto desde a concepção, coordenação e produção.

“Diante dessas observações, desde a primeira edição tentamos fazer o festival de modo igualitário. Temos a ideia de realizar o Hortolândia Girls, uma edição do Jacuba Festival só para mulheres. Queremos transformar o Jacuba em um projeto plural, com olhar diferenciado, que atenda as demandas da diversidade social, com a participação de homens, mulheres, pessoas de várias etnias, culturas, orientação sexual e gênero. E que, com essa pluralidade, todos sintam confiança em participar”, afirma Kranium.

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