Uma moradora de Hortolândia viveu um verdadeiro calvário para conseguir tratamento adequado pelo sistema público de saúde após desenvolver uma dor crônica no ombro esquerdo. O caso, que se arrastou por mais de seis meses, expõe falhas no atendimento, falta de acolhimento e demora excessiva em todas as etapas do processo — desde o diagnóstico até a reabilitação.
O início da dor e o diagnóstico
O problema começou em janeiro de 2025, quando a paciente procurou atendimento no Pronto-Socorro do Jardim São Jorge, em Hortolândia, devido a dores persistentes no ombro. Após avaliação inicial com clínico geral, ela foi encaminhada ao ortopedista, que solicitou um exame de ultrassonografia.
O exame foi realizado no dia 7 de fevereiro e revelou sinais de tendinopatia do tendão supraespinhal, lesão comum que causa dor e limitação de movimentos. Apesar do laudo confirmar o problema, a paciente só conseguiu agendar consulta com o ortopedista para um mês depois, em 7 de março.
Durante esse período, a dor se agravou significativamente, a ponto de a paciente não conseguir realizar atividades simples do dia a dia, como pentear os cabelos.
A recusa de atestado e o encaminhamento para fisioterapia
Na tão esperada consulta, a paciente recebeu uma negativa surpreendente: o ortopedista recusou-se a emitir atestado médico, alegando que “não podia dar”. “Ora, se o ortopedista não pode, quem pode então?”, questiona a paciente. A falta de empatia e a rigidez do profissional acentuaram a sensação de abandono.
Ela foi então encaminhada para fisioterapia, onde recebeu a classificação “cor laranja” no protocolo de triagem, o que a colocou em mais dois meses de espera. Diante da lentidão, a paciente formalizou uma reclamação na Ouvidoria da Secretaria de Saúde, no dia 24 de abril, mas a resposta só chegou em 26 de junho — dois meses depois.
Interrupção no tratamento e dispensa sem reavaliação médica
Somente após a resposta da Ouvidoria foi que ela conseguiu iniciar o tratamento. No entanto, após apenas sete sessões de fisioterapia, o processo foi bruscamente interrompido, sob a justificativa de que a profissional responsável estava atendendo em regime de hora extra não remunerada.
A paciente voltou ao local duas semanas depois e conseguiu retomar as sessões, totalizando 13 atendimentos. No entanto, durante a última sessão, ao relatar que havia tido cerca de 50% de melhora, foi dispensada novamente pela fisioterapeuta, que alegou que a melhora “não era significativa” e orientou retorno ao médico.
Segundo a paciente, essa dispensa ocorreu sem qualquer reavaliação médica, o que ela considera uma conduta irresponsável e inadequada. O retorno com o ortopedista só foi agendado para o dia 14 de agosto, o que significa que ela ficará mais 57 dias sem tratamento.
Iniciativa própria e desabafo
Diante do descaso, a paciente decidiu buscar atendimento particular. Utilizando o Cartão de Todos, conseguiu realizar sessões de fisioterapia por conta própria e, um mês depois, já apresenta 70% de melhora.
“Cheguei à dura conclusão de que o meu braço é meu — e só eu me importo com ele”, desabafa.
Ela critica a falta de preparo emocional e humano de parte dos profissionais da rede pública. “Falta empatia, sensibilidade e compromisso com o paciente. A população merece respeito, acolhimento e atendimento digno.”
Um alerta para o sistema de saúde
O caso levanta um alerta sobre a importância da prevenção e da agilidade no tratamento de doenças musculoesqueléticas, que, se não forem tratadas adequadamente, podem se tornar crônicas e comprometer a qualidade de vida do paciente.
A paciente encerra seu relato com um apelo: “Conheço muitas pessoas que sofrem com dor crônica e ouvem que tendinite não tem cura. Eu digo: se houver tratamento desde o início, tem cura, sim. O problema é que os profissionais esperam a piora. E quando não tem mais solução, simplesmente cruzam os braços.”
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