Quando Stallone criou o personagem Rocky Balboa, escrevendo o roteiro do primeiro filme em pouquíssimos dias, jamais imaginaria o sucesso e o rumo que a franquia tomaria. É por conta desta humanidade que a carreira de ambos praticamente se fundiu e se tornou uma grande motivação a todo ser humano que se preze.
‘Creed – Nascido para Lutar’ chegou deixando dúvidas se era realmente necessário um sétimo episódio. Quando os créditos sobem, o espectador – que já estará com lágrimas nos olhos – notará o respeito dos envolvidos para com os fãs e, diferentemente de tantos outros remakes/reboots vistos por aí, este nos guia para novas perspectivas e para um futuro bastante promissor.
40 anos após o lançamento de ‘Rocky – Um Lutador’, Stallone acerta ao dar a direção para Ryan Coogler (‘Fruitvale Station’) e sua visão diferenciada daquele universo. A química entre Michael B. Jordan e Stallone é irretocável, conseguindo driblar os diversos clichês no decorrer dos 120 minutos, com detalhes narrativos bem honestos.
Na montagem, souberam como trazer a tona toda a ambientação das lutas – e a apresentação de cada novo pugilista com uma espécie de gráfico é bastante pertinente. Um pequeno pedaço da Filadelfia surge como plano de fundo, lotada de prédios decrépitos, que de nada lembram os momentos gloriosos de Balboa e do boxe como um todo e Adonis (que deixa a riqueza para correr atrás dos seus sonhos, contrariando os pedidos de sua mãe), mesmo com dificuldades em se enturmar num primeiro momento, se insere bem quando entende seu lugar no mundo – a cena dele correndo com os motoqueiros logo atrás é de dar nó na garganta.
A luta está no sangue de Adonis Johnson, filho de Apollo Creed. Mas o jovem nunca conheceu seu pai e decide entrar no mundo do boxe, primeiramente em embates clandestinos e depois, com a ajuda de Rocky Balboa, ganha confiança para se tornar profissional.
O único problema é o romance, mal encenado e pouco convincente, ou seja, o espectador entende a necessidade disso tudo na narrativa, mas não acredita muito. Mas pouco depois a trilha sonora poderosa volta a subir, cenas de luta otimamente coreografadas surgem e ‘Creed – Nascido para Lutar’ volta para os trilhos.
A câmera inquieta de Coogler dentro do ringue, com diversos closes no rosto dos lutadores, para trazer proximidade e tensão, além dos planos sequência que teimam em nos deixar embasbacados, é outro aperitivo no meio do pacote completo. Num mundo dominado por brancos, é a vez de um negro ajudar um ex-campeão a subir as famosas escadarias do museu e se Adonis pegou o lugar de seu mentor, este novo Balboa, grisalho, enfraquecido e, principalmente, velho, está mais para Mickey.
Às vezes me pego pensando: porquê sou tão apaixonado por cinema? E a resposta diante de mim como se tivessem me desferido um direto de esquerda. Personagens como Rocky, que nos acompanham durante tanto tempo, tornam-se nossos amigos e moldam nosso caráter, trazem lições de vida tão simbólicas e belas que numa fração de segundos você se esquece dos seus problemas e acaba acreditando que todas as pessoas podem ser melhores. Por conta disso – e da cena final, que não será surpresa para quem já viu os outros episódios da série – o Garanhão Italiano ganhou um lugarzinho ainda maior dentro deste coração cinéfilo.
Por Éder de Oliveira
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