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A retirada dos EUA do Acordo de Paris

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Depois de muita especulação e suspense, alimentado pelo próprio presidente dos EUA, Donald Trump, ocorreu nesta quinta-feira, dia 01 de junho, o anúncio oficial da retirada dos EUA do Acordo de Paris, tratado sobre as mudanças climáticas que substitui a partir de 2020 o Protocolo de Kyoto, e que prevê uma redução dos gases de efeito estufa (GEE) de forma a limitar o aumento da temperatura global a dois graus Celsius. Sob este Acordo, assinado durante a Conferência do Clima de Paris (COP 21) em 2015 por 195 países, e em vigor desde novembro de 2016, os EUA se comprometeram a reduzir as suas emissões de GEE entre 26% e 28% até o ano de 2025, tendo como ano-base 2005.

Em seu discurso, Trump retoma argumentos de uma antiga e ultrapassada postura norte-americana nas negociações climáticas de afirmar que o Acordo de Paris é desvantajoso para o país, na medida em que países como a China poderão fazer “o que quiserem” daqui para a frente e até “aumentarem as suas emissões”, ignorando pelo menos vinte anos de negociações multilaterais que levaram a uma mudança, ainda que limitada, tanto na postura norte-americana quanto na chinesa, de aceitar um acordo que incluísse todas as Partes da Convenção do Clima, com metas definidas de acordo com as características e realidades específicas de cada país. O presidente norte-americano afirma, ainda, que garantirá que os EUA permanecerão como “líder mundial em assuntos ambientais”, mesmo tendo afirmado, desde a sua campanha eleitoral, que não acredita em aquecimento global e em mudanças climáticas causadas pela ação humana. Mesmo tendo nomeado para a chefia da Environmental Protection Agency (EPA) Scott Pruitt, um conhecido aliado do setor de combustíveis fósseis, mesmo tendo decretado a revisão, e possível fim, do Plano de Energia Limpa (legado da administração Obama que restringia a emissão de GEE por usinas a carvão) e outras regulamentações ambientais. Um discurso que novamente apela para os seus eleitores e grandes grupos de interesse, como os mineiros e as indústrias de combustíveis fósseis, contra a globalização e pela garantia de empregos de cidadãos norte-americanos, e contra a Ciência.

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A reação à retirada dos EUA do Acordo de Paris foi imediata. No mesmo dia do pronunciamento presidencial, um grupo representado por cidades, estados e empresas norte-americanas declarou que pretende submeter um plano à Convenção do Clima da ONU (UNFCCC, da sigla em inglês) para cumprir as metas de redução das emissões de GEE dos EUA sob o Acordo de Paris. O grupo envolve, até o momento, 30 prefeitos, 3 governadores, mais de 80 universidades e 100 empresas, e está negociando com a ONU para ter sua submissão aceita juntamente com as contribuições de outros países. O problema é que, formalmente, apenas Estados podem tornar-se partes do Acordo de Paris e inexiste mecanismos que prevejam a contribuição formal de outras entidades. De acordo com Christiana Figueres, ex-Secretária Executiva da Convenção do Clima, a retirada formal dos EUA do Acordo deve levar anos, o que ainda obriga os EUA a continuarem reportando suas emissões até que o processo se complete. Nesse sentido, a submissão do grupo liderado pelo ex-Prefeito de Nova Iorque Michael Bloomberg, poderia ser incluída nos relatórios futuros do país[2]. Apesar das questões técnicas, a retirada dos EUA do Acordo de Paris, que não é vinculante, não pressupõe penalidades e não deve ter dificuldades internas, já que o acordo não havia sido ainda ratificado pelo Senado, que conta com maioria do Partido Republicano (historicamente contra metas de redução das emissões para ao país).

Domesticamente, o compromisso assumido pelo grupo de Bloomberg indica que a liderança norte-americana para o combate às mudanças climáticas passou para os atores subnacionais e não-estatais, e este apoio deve crescer nos próximos dias e meses. É interessante notar que, no agregado, as decisões que têm orientado a ação climática norte-americana são aquelas tomadas por cidades, estados, empresas e pela sociedade civil e que, segundo Bloomberg, estes atores permanecem comprometidos com o Acordo de Paris[3]. Isso coloca um questionamento, portanto, com relação à efetividade do próprio acordo, já que, em países que contam com grupos de interesse orientados a uma economia de baixo carbono, estes tomam ações que vão além dos compromissos assumidos pelos Estados no nível internacional. Por outro lado, o compromisso, especialmente dos países desenvolvidos, com financiamento para países em desenvolvimento desenvolverem capacidades de adaptação às mudanças climáticas pode ficar seriamente comprometido.

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Internacionalmente, os EUA abrem mais um espaço de atuação para China, que é o maior emissor de gases de efeito estufa em termos absolutos. Diante das reações negativas de líderes de diversos países, e dispostos a ocupar um espaço de liderança que vem sendo aberto pelos EUA, China e União Europeia se aliam para manter os compromissos internacionais de combate às mudanças climáticas. Mesmo antes do anúncio oficial norte-americano, representantes da Europa e da China já haviam se reunido em Pequim para reativar os diálogos sobre energia e colocar as mudanças climáticas no topo da agenda da cúpula anual entre a UE e a China, que acontece em junho deste ano[4]. É fato que a retirada dos EUA do Acordo o enfraquece, na medida em que ele perde os esforços de um ator que é responsável por 15% das emissões globais e ainda pode acabar incentivando a saída de outros países que não desenvolvem políticas climáticas ambiciosas, como a Rússia e a Polônia. Por outro lado, muitas ações lideradas por outros atores subnacionais e não-estatais independem de Washington e podem reduzir significativamente o impacto da retirada dos EUA do Acordo de Paris. Nesse sentido, também é papel da sociedade civil, das empresas, da academia e da Ciência, continuarem a exercer pressão e buscar alianças em outras escalas que não só a internacional.

Por Helena Margarido Moreira
Professora de Relações Internacionais da Universidade Anhembi Morumbi e Pesquisadora associada ao IPPRI-UNESP.

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