17 de maio de 2024
Saúde & Beleza

Infância e TDAH

TDAH

“Parece que vive no mundo da lua!” Tantas vezes proferida por familiares, tutores e educadores, a frase é uma velha conhecida de crianças portadoras de transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Ciro Matsui, neuropediatra formado pela Faculdade de Medicina da USP, explica o que é a condição: “Trata-se de um transtorno do neurodesenvolvimento que surge na primeira infância, com os sintomas iniciais, desatenção, impulsividade, agitação, se manifestando por volta dos seis anos.”

Estudos mostram que o TDAH, que afeta de 3% a 5% das crianças em idade escolar, se dá devido a um déficit básico no controle inibitório, uma das funções cerebrais superiores. Assim, determinadas áreas que deveriam ser comandadas pelo cérebro ficam desassistidas. O resultado, explica Renata Paolilo, neurologista infantil também formada pela FMUSP, é a dificuldade em inibir impulsos e manter a atenção focalizada por um período mais longo. Além da predisposição genética, a médica acrescenta que há fatores ambientais envolvidos no surgimento do transtorno, como prematuridade.

São meninas e meninos desatentos, incapazes de se manter em uma atividade única ou ficar quietos por muito tempo. “Na neuropediatria, costumamos brincar dizendo que eles até podem, por exemplo, ver televisão – mas sentados, depois em pé, e de repente de ponta-cabeça”, comenta o dr. Ciro.

Segundo o neuropediatra, a impulsividade é mais uma característica dos portadores. Falar e agir sem pensar é bastante comum. “Isso pode colocá-los em risco, desencadear acidentes. É como se o controle inibitório, que regula nossos impulsos e permite que pensemos antes de agir, falhasse.”

A dra. Renata pontua que os especialistas vêm acompanhando um aumento da prevalência de todos os transtornos do neurodesenvolvimento, como o TDAH e o autismo. “Isso porque o acesso à informação melhorou, agora as pessoas podem identificar os sintomas e procurar ajuda. Apesar de existir preocupação em excesso, uma avaliação correta, fundamental sempre que houver suspeita, é capaz de diferenciar o TDAH de outras condições, como a hiperatividade.”

Entretanto, a manifestação de um ou outro sintoma ocasional, destaca o dr. Ciro, não é o bastante para que o diagnóstico seja feito. “O que determina se a criança tem TDAH é o grau de comprometimento dos sintomas, que devem ser notados antes dos sete anos de idade, por pelo menos seis meses e em mais de um ambiente frequentado por ela. Famílias, escolas, psicólogos, psicopedagogos podem até suspeitar, mas o responsável pelo diagnóstico, que é clínico, é o médico.”

No caminho inverso, abundam as famílias que fazem vista grossa para o conjunto de sintomas apresentado pelos pequenos. “Eles são prejudicados pelo preconceito. Há pais que não aceitam, escolas que acham que o aluno é ‘levado’ e só. Outras instituições são resistentes, se recusam a adaptar os currículos para acolher quem tem TDAH. Afinal, dá trabalho e exige paciência.”

Com o diagnóstico em mãos, a dra. Renata explica que o tratamento passa a depender da psicoeducação da família da criança – que precisará entender o que é o transtorno, quais são as dificuldades e necessidades em casa e na escola – e da terapia.

“De acordo com os guidelines da Academia Americana de Pediatria e da Academia Americana de Psiquiatria Infantil e Adolescente, até os cinco anos é recomendada a terapia comportamental associada a medidas psicoeducacionais. A partir dos seis, esse tratamento pode incluir medicamentos. Os mais usados são os psicoestimulantes, mas tudo depende do caso em questão. A escolha terapêutica deve ser individualizada, levando em conta a idade, as condições familiares e as comorbidades comumente apresentadas por esses pacientes.”

“Caso o tratamento seja negligenciado”, alerta o dr. Ciro, “duas coisas podem acontecer: a menina, o menino se adapta ao TDAH, certamente com algum sofrimento, ou tem início uma piora progressiva dos sintomas, que pode acabar em transtornos de conduta. Anos depois, quando a criança for um adolescente, um adulto, é possível que ela se exponha a mais riscos do que as outras pessoas, que se torne dependente de diversas substâncias e que tenha insucesso na vida afetiva e na profissional.”

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