“A doença de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, que eventualmente causa a morte de neurônios. Hoje, sabe-se que a doença é caracterizada pelo acúmulo de duas proteínas principais, o o peptídeo beta-amilóide e a proteína tau fosforilada. O acúmulo dessas proteínas é tóxico para o cérebro e esse depósit no cérebro ocorre de dez a vinte anos antes do aparecimento dos sintomas. Com a morte neuronal, há um acometimento gradual das funções cognitivas, aquelas intelectuais, responsáveis pela memória, pela atenção, pelo raciocínio. Idosos a partir de 65 anos são os principais afetados, mas adultos antes dos 65 anos também podem ser doença de Alzheimer”, explica Raphael Ribeiro Spera, médico-assistente da Divisão de Clínica Neurológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMSUP) e membro titular da ABN.
A dificuldade para se lembrar de fatos ocorridos há pouco tempo é um dos sintomas usuais da doença. Segundo o dr. Raphael, nesse momento as famílias começam a perceber que o paciente está bastante repetitivo. “Ele pode dar um ‘bom dia’ várias vezes ou voltar sempre ao mesmo assunto. A pessoa se perde dentro do próprio discurso.” Há outros tipos de sintomas: desatenção, falta de concentração, troca de sílabas, dificuldade para encontrar palavras e para se localizar geograficamente. “Não são raras as vezes em que os portadores de Alzheimer chegam a se perder na rua.”
“Muitas famílias negligenciam os sinais dados pela enfermidade, acham que é normal. O que recomendamos é que o indivíduo seja acompanhado ao médico, de preferência ao neurologista, afinal, quanto mais cedo for feita a avaliação, melhor. Aplicamos testes que analisam memória, atenção, raciocínio, e quando alguma alteração é constatada, requisitamos uma série de exames essenciais, como o de sangue, tomografia ou ressonância. Se necessário, até mesmo exames mais complexos”, explica.
Quanto à prevenção, o neurologista esclarece que não há uma fórmula mágica para evitar a enfermidade. Nada, por exemplo, como a informação falsa que circulou nas redes sociais e em aplicativos de mensagens, em agosto do ano passado, indicando que “fazer exercícios com a língua é eficaz para reduzir o aparecimento da doença de Alzheimer”.
Movimentar regularmente o corpo e o cérebro – seja com leituras, palavras cruzadas, sudoku, instrumentos musicais, novos idiomas, quebra-cabeça, xadrez ou qualquer sorte de atividade que exerça estímulos cognitivos -, sim, é um dos hábitos que podem auxiliar na prevenção da doença. Também convém manter uma dieta balanceada, a exemplo da mediterrânea, rica em frutas, vegetais, leguminosas e peixes, e pobre em carnes vermelhas, açúcar refinado e gorduras saturadas.
Novidades
Tratamentos de ponta têm sido desenvolvidos a partir de diversas pesquisas científicas. Elas são apresentadas em consagrados encontros de especialidade, como a Alzheimer’s Association International Conference, que aconteceu entre o fim de julho e o início de agosto de 2023, na Holanda. Lá foram exibidos os resultados do estudo do Donanemab, uma droga modificadora que pretende desacelerar a evolução da doença.
“No entanto”, pondera o dr. Raphael, “estamos falando de produtos caros, que ainda precisam ser importados e sequer foram aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Para a maior parte da população, o que está disponível são medicamentos sintomáticos que ajudam a desacelerar a progressão dos sintomas. Surgiram nas décadas de 1990 e 2000, são usados amplamente, aprovados pela Anvisa e disponibilizados pelo SUS”.
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