O lixo que descartamos é uma importante fonte de energia para o mundo. Saiba mais sobre a reciclagem energética e como ela pode fazer parte de sua vida
Na abertura do filme De Volta para o Futuro 2, o Doutor Emmett Brown abastece o Capacitor de Fluxo do DeLorean com lixo. Isso mesmo: comida, embalagens e tudo o que foi descartado pelas pessoas serviu de combustível para o carro que transportava ele e Martin McFly pelo futuro.
Entre todas as previsões futurísticas apresentadas pela trilogia, essa é uma que já era realidade durante a exibição do filme – apesar de poucos saberem disso. Ainda que essa tecnologia não esteja disponível em carros, é possível transformar o lixo doméstico em fonte de energia.
A ideia de utilizar o lixo para gerar energia surgiu muito antes de Emmett Brown e Martin McFly viajarem pelo tempo. Na década de 1950, a Alemanha percebeu que alguns materiais produziam grande quantidade de calor quando queimados – o suficiente para gerar energia elétrica.
Esse processo passou a ser conhecido como reciclagem energética. Consiste na queima ou compostagem de resíduos sólidos descartados que não foram reaproveitados após uma primeira triagem, como restos de alimentos, materiais higiênicos e plásticos.
Hoje, 35 países adotam este recurso, a maioria na União Europeia. Nesta região, estimativas apontam que existem mais de 400 usinas que geram 10 mil megawatts – mais de cinco vezes mais do que o economizado no Brasil com o horário de verão, por exemplo.
No Brasil, a geração de energia a partir do lixo é um tema que ainda engatinha na discussão pública. Na verdade, a própria ideia de reciclagem ainda não vingou por aqui: apenas 3% do lixo é reciclado, de acordo com relatório da CEMPRE (Compromisso Empresarial para Reciclagem).
Contudo, o futuro pode reservar uma grande possibilidade para o país iniciar sua política de reciclagem energética. Tudo graças à implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
A lei exige que os municípios fechem seus aterros sanitários e encontrem destinos sustentáveis para o lixo produzido pelos brasileiros. É o empurrão necessário para transformar os resíduos em uma fonte de energia limpa.
Alternativa limpa para o lixo
Um dos grandes fatores que explicam o sucesso da reciclagem energética é solucionar dois problemas ambientais com uma única tecnologia. Ele não só gera mais energia para a população, como diminui a concentração do lixo na natureza.
Há dois processos fundamentais para transformar lixo em energia: a incineração e a compostagem. Em ambos, a matéria-prima são os resíduos sólidos não aproveitados para reutilização.
A incineração, como o próprio nome sugere, é a queima do lixo em usinas apropriadas para obter a combustão do material. Assim, é possível obter energia térmica que posteriormente será convertida em energia elétrica que abastece casas e empresas.
O plástico, com alto poder calorífico, é o material mais importante do processo: um quilo, por exemplo, tem a mesma eficiência de um litro de diesel. Já o material que sobra da queima pode servir de matéria-prima para telhas e tijolos.
Já a compostagem é utilizada para resíduos orgânicos, como restos de alimentos. Micro-organismos agem em cima do material, formando um conjunto de gases que dão origem ao biogás e também funcionam como fonte de energia, principalmente em indústrias.
A reciclagem energética é um contraponto à utilização de aterros sanitários, que costumam contaminar o solo e o rio das regiões onde estão instalados. Nos países que já utilizam esse modelo, os aterros foram extintos em pouco tempo.
No Brasil, ainda vai levar um pouco mais de tempo. Uma usina de reciclagem energética custa mais do que um lixão e a própria separação do lixo é um hábito que custa a pegar no país: apenas 13% da população é atendida por coleta seletiva, segundo o mesmo relatório da CEMPRE.
Produza sua própria energia
Hoje há mais dispositivos eletrônicos do que na década de 1980. A popularização dos gadgets e sua ampla aceitação nas casas e empresas reforçou a preocupação mundial em torno da demanda de energia no futuro.
Um estudo conduzido pela Agência Internacional de Energia (AIE), por exemplo, prevê um crescimento de 37% no consumo energético em todo o mundo até 2040 – o que torna urgente a procura por fontes renováveis e limpas.
Apesar de não lidar tão bem com o lixo, o Brasil é exemplo quando o assunto é energia limpa. Dados do Governo Federal indicam que fontes renováveis são responsáveis por 43,8% de participação na matriz energética.
Os dados são positivos, mas podem melhorar. A reciclagem energética abre um novo leque de oportunidades, permitindo que as empresas e os próprios cidadãos produzem a própria energia que irão consumir – diminuindo ainda mais a participação dos combustíveis fósseis.
É uma solução interessante, por exemplo, para empresas que trabalham com geradores de energia. Ao invés de utilizar combustíveis fósseis, a reciclagem energética permite que o lixo seja a principal fonte desses equipamentos.
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