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Compra de 24 cafeteiras de R$ 3,5 mil vira polêmica na Câmara de Sumaré

O cafezinho de todo dia virou um assunto amargo na Câmara de Sumaré no último mês. A compra de 24 cafeteiras automáticas ao custo de R$ 3.499,00 cada causou indignação nos moradores, que ameaçaram organizar um protesto chamado “Café Milionário” — o plano foi abortado após supostas ameaças. A Câmara tem 21 vereadores — seria uma máquina para cada gabinete e mais três para outras dependências do prédio. A aquisição ocorreu em julho e foram desembolsados quase R$ 84 mil. No edital de licitação também há indícios de que as cafeteiras supostamente superfaturadas já estariam compradas antes da abertura do pregão presencial.
Uma das exigências do edital era de que as máquinas possuíssem “led de iluminação sobre a xícara: mais elegância na hora da preparação do seu café”, frase idêntica à que consta nas especificações do site da cafeteira Espressione, adquirida pela Casa. Outra exigência foi para que as máquinas possuíssem espaço para usar também “doses de café em pó (7g ideal para café espresso)” — mesma especificação do site da empresa.

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A Câmara argumentou que a compra se fez necessária para diminuir o desperdício de água e café, pois os cafés feitos pelas copeiras esfriavam nas garrafas térmicas. No entanto, uma breve consulta de preços em alguns sites que vendem o equipamento, “de tecnologia suíça”, revelou que a Câmara poderia ter economizado, pelo menos, R$ 25.680,00 adquirindo o mesmo produto. A reportagem encontrou no site Café Fácil a mesma cafeteira por R$ 2.429. Em demais lojas o valor fica em média R$ 1 mil mais barato do que as adquiridas através da empresa Isaac Aparecido Tonezella ME — vencedora da licitação e constituída um mês antes do pregão. A empresa sequer existe fisicamente.
Há uma semana um grupo de aproximadamente 120 pessoas organizou um protesto, intitulado “Café Milionário”. Os manifestantes iriam até a sessão ordinária da segunda-feira com xícaras e bolachas em mãos, protestando contra a compra das máquinas. “Todos os munícipes que pagam seus impostos estão convidados a usufruir deste milionário benefício, totalmente incabível e inaceitável”, escreveu o grupo em uma comunidade nas redes sociais. Ninguém compareceu ao protesto e o evento foi deletado da internet. Há suspeitas de que integrantes do grupo tenham sofrido ameaças, mas ninguém quis se pronunciar.
Vereadores

Outro problema é que pelo menos quatro vereadores rejeitaram o equipamento, e outros parlamentares relataram que algumas máquinas já apresentaram problema. Tanto vereadores como assessores não quiseram comentar a decisão do presidente da Casa, Welington Domingos Pereira (PROS). Uma outra justificativa para a compra apresentada pela Câmara, via assessoria de imprensa, é que a aquisição visou “o menor preço e a melhor qualidade”, e que o equipamento pode tem vida útil de dez anos.
O vereador Rui Macedo (PSDB), porém, relatou que algumas máquinas já apresentaram problemas e passam por conserto. “O meu gabinete já é apertado e a máquina é fora do tamanho para o espaço que tenho. E outra: os meus assessores estão lá para trabalhar”, disse Macedo, justificando a sua recusa do equipamento. Segundo ele, quem vai questionar se a compra foi ou não correta será o Tribunal de Contas do Estado (TCE-SP). “Não sou expert em cafeteira”, se esquivou, quando indagado sobre o que achou do gasto.
Já o vereador Henrique Stein Sciascio (SDD) informou que comprou com recursos próprios e pagou R$ 399 por uma cafeteira. “Não tenho acesso aos dados do quanto a Casa utiliza de café ou desperdiça. Mas eu fiz a minha parte, e dessa maneira já demonstro minha opinião sobre o assunto”, disse. No gabinete de Warlei de Faria (PSDB) uma funcionária relatou que a cafeteira não foi aceita porque “curiosamente” ninguém toma café espresso.
Cícero Eleotério Bispo (PDT) rejeitou a máquina porque a assessoria de seu mandato orientou. “A compra do equipamento é uma prerrogativa do presidente”, avaliou Bispo.
O presidente Welington Pereira foi procurado durante toda a tarde de ontem pelo celular fornecido pela assessoria de imprensa da Câmara, mas não atendeu às ligações. O retorno ao pedido de entrevista com o vereador também não foi concretizado pela Casa.
Legislativo diz que intenção foi tentar fazer economia

Em nota, a Câmara de Sumaré informou que a decisão de comprar as máquinas se fundamentou na necessidade de “promover economia na confecção de bebidas quentes, especialmente café, evitando desperdício”. Para a Câmara, o investimento dará a longo prazo “economia de material de copa, gás, água e exclusão de risco de acidente no preparo da bebida, devido a grande demanda do serviço de copa”. Outra justificativa é de que o Legislativo buscou o menor preço e a melhor qualidade. Sobre as igualdades nas descrições do produto no edital e na propaganda da empresa, a Câmara reafirmou que não houve a intenção de restringir a participação de empresas na licitação.
“Além disso, a compra buscou a melhor tecnologia, a fim de que se tenha no mercado, se necessário, mão de obra e peças para manutenção por longo período, de modo a garantir a vida útil do equipamento”, divulgou. “A escolha do equipamento através da utilização de grãos se deu ao menor preço do suprimento no dia a dia, uma vez que máquinas de cápsulas embora sejam de menor custo, o suprimento utilizado ultrapassa em dois meses o valor do equipamento, o que a curto prazo trará maior gasto para a Câmara Municipal”, finalizou.

Empresa sequer existe fisicamente
A empresa vencedora da licitação das máquinas de café foi a Isaac Aparecido Tonezella ME, constituída um mês antes da licitação ser aberta. O comércio ainda não existe fisicamente e Tonezella é ex-funcionário e atual prestador de serviços na loja de um assessor da Câmara. No endereço cadastrado na Junta Comercial fica a residência da família de Tonezella, e são oferecidas aproximadamente 27 atividade em ramos não similares, como por exemplo, construção e reformas de edifícios, comércio varejista de produtos alimentícios em geral e serviço de limpeza e tratamento geral de piscinas, prédios E máquinas, entre outras atribuições.
O proprietário da empresa, Isaac Tonezella, não vê problema em ter participado da licitação. “Comprei as máquinas e coloquei uma margem de 40% em cima para ter meu lucro. Não foi um negócio absurdo”, avalia. A empresa que disputou com a Tonezella era de Rio Claro, e apresentou um valor de R$ 5 mil para cada máquina de café. Segundo o empresário, após a abertura da empresa a licitação de Sumaré foi a segunda que participou. “Participei de uma (licitação) em Campinas para fornecimento de ferramentas”, disse Tonezella sem detalhar que tipo de ferramenta ou qual órgão público. Ele também não vê necessidade de ter um comércio constituído no endereço que consta na Junta. O empresário nega qualquer direcionamento na licitação, e não respondeu quando indagado das especificações do produto no edital serem idênticas à propaganda da Espressione. Também negou algum beneficiamento por prestar serviço ao assessor de um vereador.

Fonte: Correio Popular

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