Coluna

Seguir e acreditar que voltaremos a sorrir

Desde que a pandemia chegou, oficialmente em 11 de março de 2020, perdemos pessoas queridas, empregos, a liberdade dos encontros, o aconchego do abraço e a vontade de sorrir. Muitos de nós perderam a dignidade. Apesar de tanto tempo de isolamento social e restrições socioeconômicas, conservamos um sentimento valioso que é estimulado nessa época do ano: a esperança.

Olhando para o Brasil como nação, é difícil acreditar que sairemos tão logo dessa situação de degradação, que é agravada por nossa incapacidade política e econômica de reagir. São 19 milhões de pessoas com fome e 14 milhões de desempregados. Apenas uma em cada quatro crianças de até 9 anos consegue tomar café da manhã, almoçar e jantar diariamente.

Graças à mobilização do Congresso Nacional, de governadores e da sociedade civil organizada, vencemos o atraso e o negacionismo para nos tornarmos um dos países com maior índice de imunização contra a Covid-19 do planeta. Créditos para os nossos incansáveis profissionais de saúde e para a enorme capilaridade do SUS (Sistema Único de Saúde), que tem capacidade de vacinar quase três milhões de pessoas por dia.

Com o avanço da vacinação, conseguimos aliviar a pressão sobre os sistemas público e privado de saúde. Ainda vivemos o luto de quase 620 mil vidas, enfrentamos mutações do vírus e assimilamos consequências gravíssimas que levaremos anos para superar. São mais de 11 milhões de brasileiros e brasileiras com sequelas da doença e milhões de órfãos. Muitos deles viraram chefes de família do dia para a noite.

Na educação, são quase 250 mil crianças e adolescentes fora da escola, um aumento de 171%, na comparação com o período pré-pandemia. Alunos que abandonaram os estudos por não terem celulares, computadores ou internet para assistirem às aulas remotas.

A falta de emprego levou homens, mulheres e crianças para as ruas. O número de famílias sem-teto e de pessoas que tentam ganhar a vida nos semáforos do nosso país aumentou assustadoramente. A fome mata e machuca o nosso povo, que se vê obrigado a comer osso, pelanca, sebo, carcaças de peixe e comida garimpada no lixo.

A insegurança alimentar (quando a pessoa passa fome ou não sabe se conseguirá se alimentar no dia seguinte) atinge cerca de 85 milhões de pessoas no Brasil, a despeito da enorme rede de solidariedade criada por entidades, órgãos públicos, igrejas e voluntários. A situação é crítica e nos chama a estender a mão para ajudar quem precisa.

Mais do que nunca, é tempo de nos unirmos pela sobrevivência daqueles que estão vulneráveis e intensificarmos a busca da partilha do pão. Precisamos  nos irmanar na luta por alimento, saúde, educação e moradia para todos; no combate à fome, ao desemprego, ao desalento, ao preconceito, à desigualdade, à intolerância e ao ódio.

Além de comida, há pessoas que nesse momento precisam de atenção, amor e carinho; de alguém para enxugar as lágrimas, um ombro ou de uma palavra de conforto.

Embora cada um e cada uma de nós tenhamos feridas, no corpo e na alma, não podemos deixar de sonhar. Precisamos caminhar, olhar para frente e acreditar que podemos voltar a ser felizes. Para isso, temos de seguir lutando pelos nossos e pelos sonhos daqueles que sonharam ao nosso lado e tiveram suas vidas interrompidas.

Isso tudo vai passar e voltaremos a sorrir. Um Natal de esperança e um novo ano de recomeços para todos nós!


Ana Peruginié funcionária pública do TJ-SP, com formação em direito pela PUC-Campinas e pós-graduação em gestão pública pela FGV/Perseu Abramo. Mãe de três meninas, foi vereadora, deputada estadual e federal, quando presidiu a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher. É autora do projeto que cria o PIB da Vassoura

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