Coluna

Presidente, para quê?

Há tempo sabia que o poder corrompe, mas pensava que fosse apenas um vício ou crime e não uma doença. Recentemente, pela leitura do artigo de João Pereira Coutinho, “A doença do poder” (Folha, 27/6), que relata recentes estudos de psicologia e neurociência sobre a profunda relação entre o abuso do poder e a formação de lesões cerebrais, percebi que é uma moléstia patológica. As tentações autoritárias, desenvolvendo a vaidade natural e a loucura da ambição desenfreada tornam o governante um alienado da realidade, vítima de ideologias insanas ou de um egoísmo narcisista que deforma a mente humana. Figuras emblemáticas dessa doença podem ser consideradas Stalin, Hitler, Fidel Castro, Hugo Chaves, Maduro, entre outros ditadores, presidentes ou monarcas autocratas.

Se quanto maior for o poder, maior será o perigo para a sociedade, propiciando corrupção e impunidade, por que concentrar a voz de mando numa única pessoa, em lugar de diluir as forças políticas e judiciais em várias instâncias, controlando-se reciprocamente? Numa democracia verdadeiramente funcional o povo deveria escolher seus representantes votando apenas em vereadores e deputados. Caberia ao partido mais votado nomear prefeito, governador e presidente da República. Tal sistema garantiria a governabilidade por possibilitar uma rápida substituição de pessoas nos postos chaves da administração pública, toda vez que aparecessem sintomas de corrupção ou ineficiência, evitando-se, assim, traumas de impeachment. Seria uma espécie de recall: quem elegeu tem o direito de trocar o governante inepto ou desonesto.

O problema é que existe uma doença mental da massa popular muito pior do que a doença do poder dos políticos. Aliás, é aquela que sustenta esta. É o conformismo atávico que nos induz a aceitar as coisas como estão, esperando na vinda de num salvador da pátria, feitos uma manada de ovelhas precisando de um pastor. Como os crentes das várias religiões continuam esperando milagres que nunca acontecem, assim a multidão vota nos políticos de sempre, que nunca realizam a justiça social que vêm prometendo. O dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956), na peça A Vida de Galileu, proferiu uma verdade acachapante: “Desgraçado o país que necessita de heróis”.

Pelo jeito, a desgraça do Brasil ainda vai durar por muito tempo. Pesquisas de opinião revelam que Lula e Bolsonaro encabeçam a lista dos presidenciáveis nas eleições de 2018. O que esperar desses dois “heróis” nacionais? O primeiro, petista de esquerda sindicalista, após mais de quatorze anos no poder (8 como Presidente e seis à sombra da preposta Dilma), deixou o Brasil numa profunda crise econômica pelo insustentável desequilíbrio fiscal. Gastar mais do que se arrecada é de uma irresponsabilidade imperdoável até para um síndico de condomínio. Que dizer, então, da corrupção institucionalizada? Acusado, se justifica dizendo que “não sabia de nada”.

O outro aspirante ao trono, Jair Messias (sic!) Bolsonaro, de extrema direita, deputado federal pelo PSC (Partido Social Cristão), ex-capitão do Exército, batizado no rio Jordão (Palestina) pelo Pastor Everaldo, promete salvar o Brasil aumentando o contingente policial para enfrentar os bandidos. Ainda não aprendeu que violência gere violência, aumentando revoltas e podendo provocar um guerra civil. O meio mais eficiente para combater a delinqüência é o exemplo de moralidade que venha dos chefões dos Três Poderes, sem o envolvimento de deputados, senadores, juízes, prefeitos em redes de corrupção, protegidos por imunidades, foros privilegiados e outros beneícios. O assalto ao erário público é o que há de mais prejudicial à sociedade.

Concorrendo com esses dois campeões presidenciáveis estão aparecendo um ou outro outsider (azarão), prometendo mundos e fundos, sem nos explicar como enfrentarão o Parlamento do “toma lá dá cá”. Sem uma profunda reforma político-eleitoral não adianta trocarmos de Presidente. A mudança que está em curso no Congresso Nacional é apenas a de aumentar o fundo partidário para propiciar mais dinheiro público às futuras campanhas de políticos. É revoltante! Infelizmente, conforme aponta um recente estudo, apenas 5% das nossas escolhas são gerenciadas pela mente consciente. Se refletíssemos sobre as informações que nos chegam pela mídia, verificaríamos que as Nações mais desenvolvidas não têm líderes políticos ou religiosos. Por acaso, alguém sabe quem governa na Suécia, Noruega, Nova Zelândia ou no Canadá? Presidente por eleição direta para quê? Mais de duzentos milhões de cidadãos na dependência de uma única cabeça? A espécie verdadeira do “homo sapiens” ainda é muito rara!

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