Coluna

Hortolândia ficou cara antes de ficar rica

Hortolândia mudou. Quem passa pela cidade hoje não imagina que, até pouco tempo atrás, suas ruas eram mais tranquilas, suas casas mais acessíveis e os mercados, um pouco menos salgados. Era a típica cidade que crescia com calma, como quem se espreguiça aos poucos, sem pressa. Mas, de uns tempos para cá, a cidade resolveu correr. E, nesse passo apressado, parece que ficou cara antes de ficar rica.

Os bairros, antes simples e acolhedores, agora têm placas de “vende-se” e “aluga-se” por todo lado. Vários loteamentos com terrenos que passam dos R$ 230 mil. Diversos condomínios fechados. Os aluguéis subiram e as construções modernas tomaram o lugar das casas de portões baixos, como quem se impõe à vizinhança dizendo: “estou aqui e vim para ficar.” De repente, morar em Hortolândia parece tão caro quanto em Campinas ou mesmo São Paulo. E, no entanto, falta a cidade aquela estrutura, aqueles serviços que justificariam esse preço. Uma “cidade grande” sem o “glamour” de ser cidade grande.

Basta dar uma volta pelo mercado para perceber o impacto. O pãozinho do café da manhã, o frango do domingo, a fruta que enchia o carrinho… tudo parece ter mudado de categoria, como se fossem luxos, e não mais as bases da nossa mesa. Em vez de carrinhos cheios, são cestinhas com o essencial. Talvez seja o preço do “progresso.”

Enquanto os valores sobem, as opções ficam cada vez mais limitadas. Muitos moradores antigos — aqueles que viram a cidade crescer e se expandir — se veem empurrados para os cantos, reavaliando onde morar. Já pensam que, talvez, o futuro não seja aqui, mas na cidade vizinha, onde o custo de vida ainda parece mais “pé no chão.”

O engraçado, ou trágico, é que Hortolândia virou um lugar de passagem, onde muitos chegam, encantados pela promessa do novo, mas logo percebem que o brilho tem um custo. Eles logo se deparam com uma realidade que não era aquela que imaginaram. E isso, infelizmente, tem um efeito invisível, mas poderoso, na identidade do lugar. Quem é Hortolândia, afinal, quando seu próprio povo se sente deslocado, como visitantes?

Talvez essa seja apenas uma fase. Quem sabe, daqui a um tempo, a cidade encontre seu ritmo novamente, ajustando os ponteiros entre os sonhos e a realidade. Afinal, Hortolândia tem uma beleza singular, escondida nas entrelinhas de suas ruas, nas histórias de seu povo. Mas, até lá, a cidade ainda terá que enfrentar esse desafio: encontrar um equilíbrio entre o progresso e as raízes.

por Uberdan Agnelo

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