Moradores de rua e assaltos: Hortolândia, como muitas cidades que experimentam o crescimento rápido e intenso, tem seus contrastes cada vez mais evidentes. Durante o dia, suas ruas se enchem de vida, comércio e o burburinho que, por anos, marcaram o ritmo da cidade. Mas ao cair da noite, o cenário muda. O que antes parecia um lugar tranquilo e acolhedor se transforma em uma realidade tensa, dividida entre o abandono e o medo. No coração dessa transformação, se encontram os moradores de rua, que, aos poucos, se tornaram símbolos de uma luta silenciosa, mas brutal, travada pelas sombras da cidade.
É impossível ignorar a presença crescente de pessoas vivendo nas calçadas de Hortolândia. Estão ali, todos os dias, tentando se abrigar em um canto qualquer, esperando que o amanhã traga algo de diferente. Não se sabe o nome de todos, mas sabe-se que seus rostos são os mesmos que olham de volta a cada esquina, cada praça. São os invisíveis, aqueles que, por alguma razão, o sistema os perdeu. Mas mais do que isso, são também aqueles que, muitas vezes, precisam recorrer a atos desesperados para garantir o mínimo: a sobrevivência.
Nos últimos meses, a cidade tem visto um aumento no número de assaltos a comércios. Estabelecimentos que, até algum tempo atrás, eram lugares seguros, onde as conversas fluíam, e os produtos ganhavam vida nas vitrines, agora precisam reforçar a segurança, criar barreiras para se proteger da violência. É triste constatar que, por mais que a crise econômica e a insegurança pública sejam os principais fatores, existe um paradoxo: a maioria desses roubos, mesmo que não generalizados, estão muitas vezes ligados à população de rua. São aqueles mesmos que dormem ao relento, que, sem alternativas, acabam por sucumbir ao crime como um último recurso para a fome ou a necessidade.
E, entre esses dois mundos, o do morador de rua e o do comerciante, mora o verdadeiro dilema de Hortolândia. De um lado, temos pessoas que já não acreditam mais na possibilidade de um futuro melhor, que tentam sobreviver como podem. Do outro, comerciantes e cidadãos que sentem o peso da insegurança a cada novo roubo. O medo, aquele que muitas vezes nos impede de ver o outro com empatia, toma conta das ruas e, junto dele, surge a desconfiança.
Entretanto, seria injusto encerrar essa crônica sem refletir sobre as soluções. Afinal, não podemos tratar de um problema sem pensar em como resolvê-lo. A cidade precisa, urgentemente, de políticas públicas que atendam àqueles que estão nas ruas. Não basta apenas aumentar o patrulhamento, não basta apenas fechar os olhos e esperar que o problema desapareça. É necessário um olhar mais humano, mais solidário, que busque acolher quem está à margem da sociedade e que ofereça alternativas reais para quem se encontra perdido em um sistema falido.
Por outro lado, é essencial também que o comércio, esse coração pulsante de Hortolândia, receba o apoio que merece. Não é justo que o empreendedor, que com tanto esforço tenta sustentar sua família e contribuir com a economia local, viva à mercê de uma onda de assaltos que minam suas esperanças e recursos.
Hortolândia está em um ponto de inflexão. A cidade precisa decidir qual será o seu caminho, como equilibrar a segurança e o acolhimento, como olhar para o ser humano em sua totalidade, sem se deixar cegar pelo medo ou pela indiferença. A crise é visível, mas a solução também. Ela reside na ação conjunta, na compreensão de que tanto o morador de rua quanto o comerciante merecem viver em uma cidade onde a dignidade, a segurança e a esperança se entrelaçam.
E assim, entre o medo e a esperança, Hortolândia precisa seguir, com a promessa de que, talvez, um dia, as calçadas e os comércios possam novamente coexistir em harmonia, onde ninguém seja esquecido e todos tenham a chance de recomeçar.
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