A realidade profissional contemporânea tem especificidades e patologias próprias. Especialmente quando se trata de trabalhadores de classe média, que lidam produtivamente com as novas tecnologias. Estes são os cibertrabalhadores. E há doenças laborais inerentes a esta nova condição econômica histórica.
Diante disso, especialistas em saúde, ética, administração etc. devem atualizar constantemente as suas reflexões ergonômicas, tal como tem sido constante a atualização tecnológica. Um fisioterapeuta, por exemplo, deve se questionar hoje: como as práticas tradicionais da minha área podem contribuir para qualificação da vida pessoal e profissional desses trabalhadores da era digital? Será que, para essas necessidades psicofísicas novas, precisaremos de intervenções terapêuticas também novas?
Problemas tão emergentes como estes não podem ser enfrentados e respondidos sem o acesso a proposições e intervenções que surgem da moderna ergonomia. Conceitualmente, para seguir com um único exemplo, o do fisioterapeuta, é preciso partir da noção de que, em si, a fisioterapia é exatamente uma ciência de saúde, que objetiva a integridade das funções corporais humanas. Sendo assim, o fisioterapeuta é um profissional dentre os mais pertinentes para o acompanhamento e tratamento dos atuais ciberprofissionais.
Dentro da fisioterapia, a partir da reconhecida especialidade “fisioterapia do trabalho”, os estudos ergonômicos atuais, ou seja, que buscam qualificar a relação entre esses novos trabalhadores e esse novo ambiente profissional (um ambiente incessantemente ligado a computadores e smartphones), são estudos que oferecem soluções para potencializar tanto a saúde psicofísica dos trabalhadores quanto, inclusive, a sua produtividade.
No entanto, infelizmente, tais conhecimentos, técnicas e equipamentos – como cadeiras e mesas fisiologicamente adequadas, óculos “video filter” para amenizar a luminosidade das telas, aparelhos auriculares para diminuir o estresse e desconcentração provenientes dos ruídos etc. – ainda são desconhecidos ou simplesmente não estão economicamente ao alcance desses profissionais das novas tecnologias.
Ou seja, para uma análise comparativa histórica, se durante a Revolução Industrial, do século XVIII, os operários tinham um ambiente de trabalho explicitamente desumano e pouco produtivo, já os profissionais do século XXI vivem uma situação mais complexa, pois, dentro dos escritórios de hoje, é velada a promoção do sedentarismo (uma das principais causas de morte atualmente no Brasil) tal como parece haver uma aceitação tácita que faz com que as dores nas costas, por exemplo, especialmente a lombalgia, sejam a principal razão de pedido de afastamento médico nos últimos anos.
Diante desse quadro, enfim, somente a conscientização ergonômica e a implantação de práticas fisioterápicas podem desenvolver a saúde dos atuais cibertrabalhadores, aumentando prioritariamente a sua qualidade de vida, mas, também, a sua produtividade dentro das empresas. Isto é, ao contrário do movimento pessimista, que classifica as novas tecnologias como inimigas dos seres humanos, apresentamos aqui a possibilidade científica, advinda da fisioterapia especializada e da nova ergonomia, como um meio de administração racional das emergentes demandas laborais que temos hoje e não podem, mais, simplesmente ser ignoradas.
Isabela Aparecida de Oliveira, estudante do bacharelado em Fisioterapia, pela Universidade Paulista (Unip).
Wellington Anselmo Martins, mestrando em Comunicação, pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Para mais notícias, eventos e empregos, siga-nos no Google News (clique aqui) e fique informado
Lei Proibida a reprodução total ou parcial, sem autorização previa do Portal Hortolandia . Lei nº 9610/98