Coluna

Carta à juventude

Caro jovem, escrevo essa carta porque vivemos um momento sombrio e desafiador da nossa história e nosso país precisa de você para se reerguer e retomar o caminho da construção democrática, do desenvolvimento e da justiça social.

A juventude tem força e um olhar mais prático para as coisas. Foi determinante em lutas históricas como os movimentos Diretas Já, entre 1983 e 1984; Cara-Pintadas, em 1992; e a Primavera Secundarista, em 2016, quando escolas foram ocupadas para impedir o sucateamento da educação pública.

Nos últimos anos, temos sofrido com a retirada de direitos (trabalhistas, previdenciários e sociais), o encolhimento progressivo da economia, a redução dos investimentos em áreas sensíveis como educação, saúde e agricultura familiar, a imposição de uma política ambiental predatória que está destruindo nossa Amazônia, além da disseminação de ódio e tentativas constantes de cerceamento de liberdades e ameaças de ruptura da democracia.

Tudo isso tem causado sofrimento, desesperança, fome e mortes, e só vai regredir se nos unirmos para que haja mudança. É o momento de recalcular a rota e recolocar o Brasil na estrada da educação para todos, geração de emprego e renda, saúde pública de qualidade e, sobretudo, substituir essa atmosfera sufocante por um clima de amor, respeito e aquela esperança que nos faz sorrir e acreditar em dias melhores.

E você, jovem, pode contribuir muito para isso. Em outubro, vamos às urnas para escolher novos deputados e deputadas (estaduais e federais), senadores e senadoras, governadores e governadoras e presidente da República. É importante que participe desse processo, avalie, compare os candidatos e escolha aqueles com os quais se identifica e que julgue dignos de representá-lo pelos próximos quatro anos.

Em especial, quero me dirigir a você que tem 15 anos (que faz aniversário até 2 de outubro), 16 e 17 anos: se ainda não tem o título de eleitor, tire e vote! Basta acessar a página do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) – www.tse.jus.br – até o próximo dia 4 de maio. A emissão é simples, rápida e o documento sai na hora.

Exerça esse direito! Ele está previsto no artigo 14 da nossa Constituição Federal e foi conquistado há 34 anos por jovens como você, que foram para as ruas e lutaram por ele.

Você tem a oportunidade de expressar o que sente e o que quer para o futuro. Pode defender o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que foi criado em 1998 no governo Fernando Henrique Cardoso, transformado num mecanismo fantástico de acesso ao ensino superior pelo então ministro da Educação, Fernando Haddad, e que está sendo desfigurado pelo atual governo; exigir investimentos nas universidades públicas; lutar para que o ProUni (Programa Universidade para Todos) – instituído em 2004 pelo presidente Lula – continue ajudando famílias pobres a formarem seus filhos; participar da reconstrução de um Brasil que olhe para todos e cuide de seu povo e do meio ambiente.

Eu não tive essa chance. Tirei o título em 1981 e só pude votar para presidente aos 26 anos. Também não tive o privilégio de participar do Enem, do ProUni e de usar o Sisu (Sistema de Seleção Unificada) para entrar na universidade. São iniciativas que marcaram a democratização do ensino superior no Brasil e precisam ser mantidas e ampliadas.

É por meio da participação política que você pode influenciar esse processo. Ao tornar-se um eleitor que se manifesta nas urnas, você será ouvido, notado, incluído no orçamento e em políticas públicas de educação, qualificação profissional, estímulo ao primeiro emprego, produção cultural, esporte e lazer.

O futuro do Brasil depende de você. E eu sempre vou acreditar na força, na sensibilidade e na capacidade de transformação da juventude brasileira. Bora votar e mudar o Brasil! Ana Peruginié funcionária pública do TJ-SP, com formação em direito pela PUC-Campinas e pós-graduação em gestão pública pela FGV/Perseu Abramo. Mãe de três meninas, foi vereadora, deputada estadual e federal, quando presidiu a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher. É coautora da lei federal 13.363/2016, que garante afastamento temporário do trabalho para advogadas autônomas, autora do projeto que resultou na disponibilização da vacina contra o HPV na rede pública e da proposta que cria o ‘PIB da Vassoura’ no país.

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