Denominação homenageia educadora infantil que ajudou a elaborar protocolo de atendimento às crianças nas creches municipais
Mais conhecida como “Bambino”, a Emeief (Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental) Remanso Campineiro passa a ter oficialmente outra denominação. Recebeu o nome da Profª Zenaide Ferreira de Lira Seorlin, coordenadora pedagógica que lecionou na rede municipal durante 18 anos e faleceu em dezembro do ano passado, em decorrência de câncer de mamas.
Realizada na segunda-feira (27/05), à noite, a cerimônia reuniu cerca de 100 pessoas entre amigos, familiares e pais de alunos, além de gestores e demais funcionários da Secretaria de Educação. Durante o evento, a secretária de Educação, Cleudice Baldo Meira, destacou que a educadora deixou muitos feitos na área educacional, entre eles, a elaboração do Protocolo da Educação Infantil que padroniza o atendimento às crianças nas creches municipais.
“Ela foi uma referência no trabalho de formação de professores, comprometida e perseverante com tudo que desenvolvia”, destacou Cleudice. “A denominação da escola vai matar um pouco a saudade que temos da profissional e da pessoa que ela sempre foi para nós, pelo trabalho dedicado que realizou na educação infantil e pela história bonita que escreveu na nossa cidade”, acrescentou a secretária.
Para a coordenadora pedagógica Jacqueline Longuini, que trabalhou com a professora Zenaide nos últimos 15 anos, a cerimônia é uma homenagem às contribuições da educadora para a educação de Hortolândia. “O comprometimento com a educação e as crianças desse município foi a grande marca que a Zenaide nos deixou e que servirá de inspiração para todos nós”, ressaltou.
Zenaide Seorlin era educadora conhecida na cidade, lecionando na educação infantil. Atuou também como coordenadora pedagógica do Centro de Formação Paulo Freire e defendia uma educação de qualidade. Foi homenageada durante a Jornada Pedagógica deste ano, atividade que dá as boas-vindas aos educadores e os prepara para o retorno às atividades (veja texto lido durante a Jornada em homenagem à Zenaide).
Inaugurada em 1989, a escola está localizada na Rua José Camilo Camargo, 333, no Remanso Campineiro. Atende 343 crianças, entre 4 meses e 3 anos, em turmas de berçário, minigrupo, maternal, jardim I e jardim II.
Confira abaixo a íntegra do texto em homenagem à professora Zenaide Seorlin, apresentado durante a Jornada Pedagógica 2013:
Já fui criança neste Município. Brinquei descalça, na rua… Não existia creche. Minha mãe trabalhava fora e eu contava com a sorte, pois eu era cuidada pelos meus irmãos mais velhos. Brincar era a minha maior alegria e o quintal, um cenário de histórias construídas com Amor. O contexto vivido possibilitava ficarmos sozinhos, sem medo do perigo. Não se falava em infância, educação, conhecimento, lição de casa, escola como direito das crianças. A batalha era a vida.
Cresci e vivi a cidade em todos os seus aspectos. Naquele contexto não havia perigo. Hortolândia cresceu muito e com ela vieram muitas crianças.
Na minha condição de criança, fugia às vezes de casa para brincar. Tais brincadeiras me possibilitavam o prazer de ser criança e criar situações que até então eu não tinha. A casa dos meus sonhos, o trabalho que eu desejava, os brinquedos que eu não tinha, as roupas que eu gostaria de usar, a escola e a professora que me aceitassem do jeito que eu era, por que para ela ( a escola), faltava muito pra eu virar gente.
Essa fantasia que me tirava do chão, contribuiu para que eu me esforçasse nos estudos, apesar de muito difícil. Virar gente demanda estudo, conhecimento, mas eu sabia que venceria.
O querer crescer profissionalmente e pessoalmente, perpassa as condições difíceis. Foi esse querer que me fez chegar à condição de Assistente Pedagógica de doutores em educação na Universidade de Campinas.
O que dizer da formação acadêmica e moral de uma menina que nasceu na roça; filha de um caboclo que não sabia ler nem escrever e uma mãe amorosa? O que esperar da educação de uma criança, cuja família se enquadrava em ultimo lugar na organização social?Como construir saberes se o meio em que vivia não havia materiais nem diálogos intelectuais?Como pegar o gosto pela educação se a mesma era estressante, classificatória e de exclusão? Como empenhar nos estudos e na cultura se os mesmos ficavam em segundo plano, pois, o trabalho doméstico deveria ser concluído, antes e, sobretudo?Como pude chegar á universidade como assistente pedagógica do curso de formação de professores em exercício, inédito no país?
A resposta a essas perguntas é a minha própria formação: Professora, apaixonada pela educação infantil, Pedagoga, funcionária pública, Especialista coordenadora no Município de Hortolândia, responsável por formação de professores e educadores integrante de escolas públicas e assistentes pedagógica de Disciplinas que me fizeram virar gente.
Oportunidade única que não mais tirarão de mim; o conhecimento, a experiência e a mudança de olhar enquanto quebrava paradigmas.
Vejo a minha história de vida dessa forma: aprendendo com o outro e com o meio tudo o que eu precisava saber para viver naquele espaço que possibilitou aprendizagem, desejos, sonhos e conhecimentos. Tornei-me gente grande e não mais ficarei sem o que construí até o momento.
É nessa perspectiva que desejo ver a educação. Que ela ( educação) veja em cada criança, dentro da escola, um cidadão, com seus direitos e deveres, mas que, principalmente, possa dialogar, confrontar ideias, ter o prazer de aprender, desafiar situações, conquistar seu espaço, expressar-se por diferentes linguagens e muito mais que isso; com ética, no sentido de afirmar seu papel de cidadão e político que contribui para a construção da sociedade, democraticamente.
A escola deve ser ambiente prazeroso, com possibilidade de círculo de cultura, que respeita a criança no seu tempo de aprender, seja de qual forma for. Organizar o tempo e o espaço de maneira que possam apreender conceitos, realizar procedimentos, compreender fatos, vivenciar situações é hoje entendido por mim como primordial para o desenvolvimento integral das crianças.
Aprender é bom! Aprender coletivamente é melhor ainda. O aprendizado é possível para todos! Já se sabe que o aprendizado, o conhecimento é adquirido através das interações entre pessoas. Portanto, concebo que o princípio da Educação é saber que o outro existe!
Zenaide Ferreira de Lira Seorlin (1971-2012)
Fragmentos do Texto original do Memorial de Formação
PROESF UNICAMP(2004)
Texto: Denice Palomo
Edição: Ana Medina Néri
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