O governo federal intensificou as ações para atrair investimentos em ferrovias, buscando destravar projetos estratégicos que podem transformar o transporte de carga no país. Apesar dos avanços recentes em setores como saneamento e rodovias, o transporte ferroviário ainda enfrenta obstáculos legais, ambientais e financeiros que limitam seu crescimento.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), Vicente Abate, o potencial do setor é semelhante ao das concessões de rodovias, que se tornaram mais atrativas após o interesse de fundos e operadores privados. “O transporte de carga sobre trilhos pode atrair uma ampla gama de investidores, mas precisamos avançar em iniciativas que ofereçam segurança jurídica e garantias financeiras”, afirmou.
Ferrogrão e FIOL estão entre os principais projetos ferroviários
Entre os projetos que podem destravar o setor está a Ferrogrão, ferrovia de 933 km que ligará o estado de Mato Grosso, principal produtor de grãos do país, ao porto de Miritituba, no Pará. O investimento estimado é de R$ 25,2 bilhões em capex (custos de implantação) e R$ 49,2 bilhões em opex (custos operacionais).
O projeto, no entanto, enfrenta entraves judiciais. O Supremo Tribunal Federal (STF) retomou recentemente o julgamento que analisa a validade dos estudos de concessão da ferrovia, suspensos desde 2021 por uma liminar. Dois ministros já votaram a favor da continuidade, mas o processo foi novamente adiado após pedido de vista.
Abate destacou que, sem essas disputas judiciais, o empreendimento poderia estar pela metade concluído. “Há enorme interesse de empresas nacionais e estrangeiras, já que a Ferrogrão atende uma região estratégica para o escoamento de grãos em escala global”, disse.
Outro projeto prioritário é a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), que deve ligar o Centro-Oeste ao Nordeste, totalizando 1.527 km divididos em três trechos. O FIOL I, de 537 km, foi concedido em 2021 à Bahia Mineração (Bamin), controlada pelo grupo Eurasian Resources Group (ERG), do Cazaquistão. Porém, as obras foram suspensas durante negociações para venda da empresa.
Enquanto isso, o FIOL II está sob responsabilidade da estatal Infra SA, e o FIOL III permanece em fase de estudos, com previsão de concessão futura ao setor privado. Um consórcio formado por Vale, Cedro e BNDES estuda adquirir a Bamin, mas, segundo executivos envolvidos, o investimento necessário para concluir o trecho e o Porto Sul, na Bahia, é elevado — cerca de US$ 5 bilhões.
Garantias financeiras e novos modelos de concessão
Para viabilizar os investimentos em ferrovias, o governo pretende oferecer garantias financeiras às empresas concessionárias durante as fases iniciais dos projetos, até a obtenção das licenças ambientais e estruturais. A proposta é reduzir os riscos e tornar as concessões mais atrativas ao capital privado.
O setor enfrenta dificuldades no acesso ao crédito, já que os empreendimentos demandam grandes aportes iniciais e retorno apenas após a conclusão das obras. Por isso, parte significativa do financiamento ainda depende de recursos públicos, especialmente via BNDES.
Investimentos públicos em alta, apesar das restrições fiscais
Mesmo com limitações orçamentárias, o Ministério dos Transportes tem ampliado o investimento público em ferrovias. Segundo o ministro Renan Filho, o governo aplicou R$ 7,7 bilhões em 2022, R$ 10,9 bilhões em 2023 e R$ 13,7 bilhões em 2024 — o maior valor da história recente.
“Esse aumento acontece em um momento em que o Brasil bate recordes de produção agrícola e exportação de minério. Esse crescimento exige mais ferrovias, mais logística e mais competitividade”, afirmou o ministro durante evento do setor.
Meta é dobrar participação ferroviária no transporte nacional
O transporte de cargas no Brasil ainda é fortemente dependente das rodovias. Em 2024, as ferrovias movimentaram 540 milhões de toneladas úteis, o maior volume em 20 anos. Entre janeiro e julho de 2025, o modal transportou 302,9 milhões de toneladas, alta de 0,16% em relação ao mesmo período de 2024.
A mineração responde por 72% desse total, seguida pelo agronegócio (18,6%) e combustíveis e derivados de petróleo (6,5%). O governo pretende elevar a participação ferroviária na matriz de transporte de 20% para 40% até 2035, buscando equilibrar o uso de trilhos e rodovias e reduzir custos logísticos.
Desafios e oportunidades para o futuro
Especialistas avaliam que os investimentos em ferrovias podem impulsionar o desenvolvimento regional, gerar empregos e reduzir a emissão de gases poluentes, mas alertam que a efetividade dependerá de segurança jurídica e estabilidade regulatória.
A integração entre o transporte ferroviário e os portos é outro ponto-chave para ampliar a eficiência do escoamento da produção nacional, especialmente em estados agrícolas como Mato Grosso, Goiás, Bahia e Pará.
Com o avanço de projetos como Ferrogrão e FIOL, o Brasil dá passos importantes rumo a um sistema logístico mais competitivo, sustentável e integrado — ainda que o caminho até os trilhos seja longo e desafiador.
FAQ – Investimentos em ferrovias no Brasil
1. Quais são os principais projetos ferroviários em andamento no Brasil?
Os principais são a Ferrogrão, que ligará Mato Grosso ao Pará, e a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), que conectará o Centro-Oeste ao Nordeste.
2. Por que o transporte ferroviário é estratégico para o país?
Por permitir o transporte de grandes volumes a longas distâncias, com menor custo e menor impacto ambiental, sendo essencial para o agronegócio e a mineração.
3. Quais os desafios para ampliar os investimentos em ferrovias?
Os principais obstáculos são as questões ambientais, o alto custo inicial, o financiamento limitado e as incertezas jurídicas em torno das concessões.
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