Estudos prévios demonstraram que parte dos pacientes com sintomas graves de COVID-19 possuía variações em um grupo de genes relacionados ao sistema imune e às proteínas de superfície de algumas células, o que poderia facilitar a entrada e multiplicação do novo coronavírus e resultar em um quadro mais severo de infecção. Utilizando estas informações como base para as pesquisas, o trabalho publicado na HGV – e que contou com a participação dos pesquisadores Rodrigo Secolin e Iscia Lopes-Cendes, do BRAINN – analisou o genoma da população brasileira em busca de variações nestes genes de interesse.
O trabalho descreve o processo de busca, utilizando plataformas de compartilhamento de dados genéticos como o BIPMED, e os resultados: 325 variações genéticas compartilhadas com outras populações (06 delas já vinculadas a prognósticos diferenciados de Covid-19) e 70 variações exclusivas até agora da população brasileira, sendo 07 delas com potencial de alterar a função de proteínas, de acordo com previsões computacionais.
“Estas descobertas podem levar a diferentes taxas de infecção ou de resposta à infecção por SARS-CoV-2, e deverão ser investigadas em pacientes com a doença”, escrevem os pesquisadores.
Genética populacional no combate à pandemia
Estudos de genética populacional são cada vez mais utilizados na medicina como auxiliares na prevenção e no tratamento de doenças, desde as infecciosas, como a Covid-19, às crônicas, como obesidade e diabetes. Ao analisar grandes bancos de dados genômicos contendo milhares de amostras de pessoas e grupos populacionais diferentes, os pesquisadores podem encontrar padrões de mutações ou variações que indiquem predisposição a doenças, ou mesmo à gravidade delas.
No caso do estudo atual sobre Covid-19, é importante frisar que as variações genéticas identificadas na população brasileira são consideradas ‘raras’, e portanto ainda precisam ser estudadas mais a fundo antes de servirem de base para tratamentos médicos. “No momento, os fatores de risco já conhecidos para a COVID-19, como idade, obesidade, diabetes, doenças que interferem na imunidade e o câncer, continuam sendo os principais fatores de risco que devem ser considerados pela população”, afirma a pesquisadora Iscia Lopes-Cendes.
Matéria original publicada no site do Cepid Brainn.
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