Estava sentindo falta de um projeto que tivesse sido indicado ao Oscar de Melhor Filme neste ano de 2016 e que realmente mexesse comigo e ‘Spotlight – Segredos Revelados’ fez exatamente isso. O inacreditável é que o trabalho anterior de Tom McCarthy havia sido ‘Trocando os Pés’, com Adam Sandler, e aqui ele não só se redime deste erro monstruoso, como também prova talento para a escolha dos atores.
Com um processo cada vez mais pobre, no que diz respeito a investigação jornalística pós-internet, onde a preocupação está nos números e no quão sensacionalista determinado tipo de matéria será dado, aquele grupo de profissionais conseguiu expor a Instituição Católica como nenhum outro veículo havia feito, até porque, vemos a criação e fortificação de uma espécie de indústria da pedofilia nos arredores de Boston – acredite você ou não – onde a Igreja pode ser considerada o quarto poder – familiares, advogados, repórteres e juiz eram comprados ‘em nome da fé’.
Muitas passagens me deixaram revoltados, principalmente quando penso que a história foi tirada de fatos reais. Um destes exemplos é quando Sacha Pfeiffer pergunta para uma das vítimas se não havia contado para seus familiares e ele diz: ‘minha mãe chamou o padre em casa e depois, serviu biscoitos para ele’ ou quando vão para a casa de um suspeito e o mesmo diz abertamente que ‘apenas brincava com as crianças, nunca cheguei a estuprá-las. Sei a diferença pois fui estuprado’. Portanto, era e continua sendo, um ciclo vicioso.
Apesar do elenco estar perfeito, são nas atuações de Michael Keaton, Liev Schreiber (por incrível que pareça) e, principalmente, Mark Ruffalo, que cria um personagem lotado de tiques e maneirismos, que ‘Spotlight’ ganha naturalidade ainda maior.
Quando um novo editor chega no The Boston Globe, ele decide chamar um time de repórteres para investigarem mais afundo documentos capazes de comprovar dezenas de casos de abusos contra crianças por padres. Estes padres eram acobertados e iam mudando-se de região para não serem punidos.
Se no início eram ‘apenas’ uma dezena de padres envolvidos, no final este número se eleva as alturas, causando um sentimento de inércia, tamanha hipocrisia de figuras que se dizem próximas a Deus. No caso dos jornalistas, há diversas situações em que a ansiedade em publicar a matéria antes dos concorrentes, quase se transforma num equívoco.
O projeto mostra que a linha entre ficção e realidade, por vezes, é muito tênue e pode incomodar alguns quando feito da maneira correta, só assim para entender o fato de que o Vaticano fará uma exibição para seus cardeais e, após isso, debaterá a respeito do tema. Para muitos, a fé pode ser inabalável em Deus, mas nunca se esqueçam de que as instituições religiosas são formadas por homens, tão reféns de desejos e pecados quanto qualquer um de nós, seja você católico ou evangélico.
Por Éder de Oliveira
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