É imperioso desmistificar a comercialização de plasma sanguíneo e compreender o problema que enfrentamos de maneira clara. Para tanto, convém ter em mente alguns dados: no Brasil, para cada mil habitantes, são produzidos 16g de imunoglobulina, principal produto derivado do plasma; na Europa, o número é cerca de 16 vezes maior, chegando a 250g por mil habitantes. Além disso, cada litro de plasma gera apenas 3,8g de imunoglobulina, uma produção notavelmente baixa. Não é o bastante para atender à demanda do nosso país.
A responsabilidade recai, em grande parte, sobre a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), criada pelo governo em 2004 e localizada em Goiana, Pernambuco. Embora tenha recebido investimentos substanciais, cerca de R$ 2 bilhões, segundo a Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (SBHH), a Hemobrás não conseguiu alcançar produção significativa em quase duas décadas – e mesmo queatingisse sua capacidade total, ainda forneceria somente 10% da imunoglobulina requisitada em território nacional.
São colhidos aproximadamente 200 mil litros de sangue por ano no Brasil, mas precisaríamos de um milhão para suprir nossa carência de hemoderivados. Tamanha disparidade evidencia quão urgentes são os investimentos da iniciativa privada no setor. Não podemos permanecer dependentes da importação de imunoglobulina, arcando com gastos indevidos.
A Associação Médica Brasileira (AMB) apoia a Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia e adota postura favorável à iniciativa privada. A Associação Paulista de Medicina (APM) também endossa o posicionamento.
Com o avanço da PEC, não haverá, reforçamos, pagamento por doações; será conservada a natureza voluntária e altruísticado ato. A mudança trará, isto sim, uma ampliação da oferta de imunoglobulina para a população.
Em um país de dimensões e desafios igualmente imensos, como o nosso, é vital estarmos abertos a soluções inovadoras e parcerias estratégias que beneficiem a saúde e o bem-estar dos cidadãos. Trabalhando juntos, podemos dar um passo histórico rumo à melhoria do acesso a tratamentos vitais.
Antônio José Gonçalves, 2° vice-presidente da APM