Por que álcool e gravidez não combinam

de Redação Portal Hortolândia
gestante

A Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), doença grave e irreversível, compromete o desenvolvimento cerebral de bebês e provoca anomalias congênitas, problemas cardíacos e fenda do palato, entre outras.

No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, a prevalência da SAF é estimada em1 caso para cada 1.000 nascidos vivos. Contudo, o número certamente é bem maior, pois há subnotificaçãoem virtude do desconhecimento sobre a doença até entre médicos, profissionais de saúde, pela dificuldade de diagnóstico e ainda por conta do crescimento do consumo de bebidas alcóolicas entre as mulheres.

Estudos internacionais apontam que a prevalência é maior em populações vulneráveis sócio-economicamente. Esse achado científico é corroborado, em território nacional, por pesquisa de meados de 2014, com 2 mil puérperas do Hospital Municipal Maternidade-Escola de Vila Nova Cachoeirinha: 33% das acompanhadasbebiam mesmo esperando um bebê. O mais grave: 22% consumiram álcool até o dia de dar à luz.

O espectro de desordens fetais alcoólicas, do inglês Fetal Alcohol Spectrum Disordes, FASD, está sempre à espreita de crianças expostas à bebida no útero. Elas podem ter atrasos de memória, fala, audição e atenção, dificuldades na aprendizagem escolar, especialmente em matemática, e no relacionamento interpessoal.

Quando crescem, correm o risco de se tornar adultos com problemas de saúde mental e de comportamento, desrespeitando leis, consumindo drogas e demonstrando dificuldades com o emprego, conduta sexual inadequada e dependência física e emocional.

A situação se agrava ao entrar em cena a Síndrome Alcoólica Fetal, SAF, a mais séria das desordens do espectro FASD. Crianças portadoras da SAF completa manifestam não apenas alterações comportamentais, como também físicas desde o nascimento–mais de 400 já foram listadas, mas as principais delas são a microcefalia, isto é, cabeça e crânio pequenos, e as dismórficas faciais típicas, como olhos pequenos, lábio superior fino e fissuras palpebrais curtas.

Além disso, os bebês com a síndrome tendem a crescer de forma lenta dentro do útero e a apresentar, já nascidos, baixo peso relativo à altura, deformidades nas articulações, problemas no coração, nos rins e nos ossos. Estima-se que para cada indivíduo com a SAF completa, existam ao menos 10 com outras desordens em todo o mundo. Isso corresponde de 1% a 3% da população geral.

É preciso salientar que não há nível seguro de consumo; adotar abstinência total é a única maneira de prevenir as doenças. Poor colocarem em risco o aleitamento materno, bebidas também são desaconselhadas depoisdo nascimento.

Retornando à análise de dados brasileiros:eles são localizados e insuficientes. Estimativas mundiais indicam que uma em cada 13 mulheres que bebem durante a gestação darão à luz um bebê com FASD, o que resultano nascimento 630.000 portadores de desordens fetais alcoólicas todos os anos ao redor do globo.

Importante frisar que essas crianças podem sim viver com mais qualidade se submetidos, o mais cedo possível, a um bom acompanhamentocom obstetras, pediatras, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, psiquiatras e outros profissionais; entretanto, como estamos falando de doenças sem cura ou tratamento exato, o melhor caminho sempre seráevitá-las antes que surjam.

Uma palavra que deve sempre permanecer no nosso radar é moderação. Quando de gestação, zero álcool. Levantamento realizado pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), com dados do DATASUS 2021, apontam que o consumo abusivo de bebidas alcoólicas, caracterizado pela ingestão de quatro ou mais doses, cresceu 4,25% entre as brasileiras na última década. Investigar as razões por trás do aumento é urgente. Vidas de mães e filhos, afinal, estão em jogo.

Dada à gravidade da SAF,a Sociedade Brasileira de Pediatria realizará uma série de ações de conscientização em sua campanha permanente #gravidezsemálcool, ao lado da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) e do Instituto Olinto Marques de Paulo (IOMP), Associação Médica Brasileira e Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

Vale acompanhá-las, para obter informações cientificamente sólidas e não dar brecha para a SAF. Fica a dica: se ama, não beba. Seu bebe será saudável e teremos novas geraçoes mais felizes.

Clóvis Francisco Constantino, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria

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