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Dor: desafio para pacientes e médicos

Houve um tempo – longo tempo – em que a dor, mais do que reação do corpo ou sintoma de alguma doença, era considerada uma forma de punição divina ou de sacrifício para purificar a alma em diversas culturas.Até a década de 1970, quando a medicina e a indústria farmacêutica, que já colecionavam grandes avanços, desenvolveram analgésicos e anestésicos eficazes, suportar dores lancinantes era um sinal de força bem-visto. Hoje, felizmente, o entendimento é outro.

Marcos Paulo Veloso Correia, Professor Adjunto do Departamento de Medicina em Atenção Primária à Saúde na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FM-UFRJ) e membro da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), lembra que de acordo com a Associação Internacional para o Estudo da Dor (International Association for the Study of Pain, IASP), ela é definida como uma experiência sensitiva emocional desagradável associada a um dano tecidual ou potencial, ou descrita em termos de tal dano, e traz consequências que podem ser devastadoras à saúde física e emocional das pessoas.

Seja aguda, isto é, temporária, ou crônica, persistindo por meses e até anos, a dor tem o potencial de limitar a capacidade funcional de quem a sente, interferir no sono, aumentar o estresse e a ansiedade, e diminuir a qualidade de vida geral. No Brasil, onde o acesso aos serviços de saúde ainda é precário, diagnosticar e tratar a dor pode ser algo desafiador para médicos e pacientes.

         Ao menos 37% da nossa população sente dor crônica, segundo pesquisa feita pela Sociedade Brasileira de Estudos da Dor (SBED). As mais comuns são dor de cabeça, na lombar, nas articulações, na boca, na face e no pescoço.É a dor, a propósito, o principal sofrimento que os leva a buscar a Atenção Primária à Saúde (APS), explica o médico de família e comunidade. “Se não cuidamos da dor que o paciente relata sentir, não somos capazes de formar vínculos, de estabelecer com ele uma relação que permita tratar de outros problemas. Por isso, na APS, primamos pelo uso de uma linguagem mais acessível, pela proximidade, pela humanidade, enfim. Sem um bom trabalho na base, a atenção secundária, a atenção terciária são prejudicadas”,pontua.

Para Alfredo de Oliveira Neto, também Professor Adjunto do Departamento de Medicina em Atenção Primária à Saúde na FM-UFRJ,membro da SBMFC e coordenador do seu Grupo de Trabalho em Dor (GTDor), existe uma lacuna na formação dos profissionais, tanto na graduação quanto na residência médica. “As pessoas se frustram dentro dos consultórios ao perceber que têm poucas ferramentas para lidar com a dor comumente crônica dos pacientes.”

A escassez de profissionais especializados em manejo da dor e a prescrição excessiva de analgésicos tornam ainda mais complexa a situação. Tratamentos eficientes, afinal, requerem uma abordagem multidisciplinar, envolvendo médicos, fisioterapeutas, psicólogos e outros profissionais de saúde. Além disso, diagnósticos precisos, compreensão dos mecanismos da dor, conhecimento das opções de tratamento e comunicação límpida com o paciente fazem toda a diferença.

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