A nova proposta de redução da jornada de trabalho no Brasil. O que esperar?

A proposta de redução da jornada de trabalho sem cortes salariais, prevista no Projeto de Lei (PL) 1105/2023, gerou um intenso debate entre empregadores e trabalhadores. Autoria do senador Weverton (PDT-MA), a iniciativa busca transformar o mercado de trabalho ao reduzir a carga horária semanal para quatro dias, garantindo o salário integral.

Como funciona a proposta de redução da jornada?

De acordo com a proposta, a implementação dessa mudança deve ocorrer por meio de convenções ou acordos coletivos, excluindo acordos individuais, conforme sugerido pelo relator Paulo Paim (PT-RS). A Comissão de Assuntos Sociais (CAS) já aprovou o projeto, que agora seguirá para discussões no plenário do Senado, onde enfrentará diversas emendas.

Contexto internacional e a relevância da mudança

A redução da carga horária não é uma ideia inédita. Países como França, Alemanha e Espanha já adotaram ou estão discutindo essa prática, visando melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores. Segundo Paulo Paim, alinhar o Brasil a essa tendência mundial seria um passo importante para equilibrar vida pessoal e profissional, sem comprometer a produtividade.

Estudos do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) sugerem que o Brasil poderia ter adotado essa política desde 2010, visto que o custo salarial é relativamente baixo em relação à produção total.

Desigualdade e produtividade no Brasil

Desde a última alteração significativa na jornada de trabalho em 1988, a economia brasileira passou por várias transformações. Contudo, dados do IBGE mostram que a participação dos salários no PIB caiu 12,9% entre 2016 e 2021, enquanto os lucros das empresas aumentaram em 16%. A socióloga Adriana Marcolino, do Dieese, argumenta que a redução da jornada sem diminuição salarial seria uma forma justa de redistribuir esses ganhos, beneficiando tanto trabalhadores quanto a economia.

Saúde e bem-estar dos trabalhadores

Além dos impactos econômicos, a redução da carga horária pode trazer benefícios significativos para a saúde dos trabalhadores. A médica Maria Maeno, da Fundacentro, destaca que jornadas longas estão ligadas a um aumento de doenças ocupacionais e acidentes. A diminuição das horas trabalhadas poderia permitir que os trabalhadores tivessem mais tempo para descansar e cuidar de si mesmos.

Experiências Internacionais

Vários países já testaram com sucesso a semana de trabalho de quatro dias. No Reino Unido, 61 empresas adotaram o modelo em 2023, com resultados positivos: 39% dos trabalhadores relataram menos estresse e 79% notaram uma redução nos sintomas de burnout. No Brasil, a organização 4 Day Week Brazil está acompanhando um projeto-piloto com 22 empresas, que implementaram a regra “100-80-100”, onde os funcionários trabalham 80% do tempo, recebem 100% do salário e entregam 100% da produtividade.

Desafios e oportunidades

Apesar do apoio em setores como o do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, a proposta enfrenta resistência de empresários, que temem que manter a produtividade possa afetar os lucros. Clemente Ganz Lucio, assessor técnico das Centrais Sindicais, destaca que a exigência de manter a produtividade em 100% é um dos principais obstáculos nas negociações.

Além disso, a automação e as novas tecnologias estão mudando o mercado de trabalho, afetando de 40% a 60% das vagas nos próximos dez anos. Nesse contexto, a redução da jornada pode se tornar uma necessidade urgente.

O Futuro da jornada de trabalho no Brasil

O debate sobre a redução da jornada de trabalho promete continuar gerando polêmicas e discussões nos próximos meses. Enquanto alguns acreditam que essa mudança trará benefícios a todos, outros temem que possa comprometer a produtividade e a competitividade do país.

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