Coluna

O risco da mitificação

Em fevereiro de 1990, após cumprir quase 27 anos de prisão, Nelson Mandela foi libertado e, em 1994 tornou-se presidente da África do Sul. Em cinco anos de presidência, buscou a reconciliação de grupos internos. Tornou-se praticamente um mito, o que traz riscos, pois a idolatria traz perda do senso crítico da pessoa sobre si mesma e dos outros sobre ela.

Poucas pesquisas visuais tratam a questão com tamanha contundência como a série de esculturas ‘A Dream Deferred’ (‘Mandela Balls’) [Um sonho adiado (Bolas de Mandela)], da artista sul-africana Tracey Rose. Iniciado em 2013, o trabalho, em andamento, terá 95 obras, referência à idade com que o líder faleceu.

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A artista se vale de várias referências. O título vem do poema ‘A Dream Deferrred’, de Langston Hughes, poeta dos EUA dos 1920, no qual um sonho desfeito é comparado a uma uva definhando ao sol. O subtítulo alude ao desumano ato da castração ou esmagamento dos testículos de homens africanos durante o período colonial.

As esculturas, feitas de materiais como papel de açougue e fita adesiva, criam um diálogo entre o cotidiano e os testículos de Mandela. Apontam para o risco de pessoas passarem a ser vistas como perfeitas, perdendo um saudável estado de vigília que permite que elas não se julguem acima dos mortais, e os outros não as considerem acima da falível humanidade.

Oscar D’Ambrosio, doutor em Educação, Arte e História da Cultura, mestre em Artes Visuais, atua na Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp.

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