Crônica: O agonizante e a fé

Quando restavam apenas alguns grãos de areia para a ampulheta completar o ciclo de toda uma vida, o agonizante pensou consigo mesmo: “Não há mais tempo. Tampouco há o que se fazer.” Foi então quando ele viu: a ampulheta entornou com uma leve brisa que soprou em meio a um tempo quente e mumificado no espaço, como um protesto de não aceitação dos fatos; rolou sobre a superfície lisa que apara o ato de morrer; caiu no pequeno precipício da agonia de quem não quer partir; e quicou no chão da esperança de quem suplica por mais uma chance apenas.

E novamente a ampulheta posicionou-se de pé, com seu punhado de areia, recontando a vida. O agonizante tinha fé e esqueceu-se dela em meio as suas agruras, mas ela não esqueceu-se dele. A fé salvou o agonizante. Um milagre se fez.

Éd Brambilla. CRÔNICA. O AGONIZANTE E A FÉ.

Sobre Éd Brambilla

Éd Brambilla é Letrólogo, Cronista, Contista, Poeta, Contador e Massoterapeuta.

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