Pesquisadora volta a Hortolândia para ver retomada da educação Integral

Responsável pela implantação de políticas federais de educação integral no Brasil, entre 2008 e 2013, Jaqueline Moll esteve em Hortolândia, nesta quarta-feira (14/03), para participar de seminário e acompanhar retomada do programa em escolas municipais

“A escola é um espaço de convivência humana e de aprendizagens para o desenvolvimento pessoal e para o desenvolvimento da vida em coletividade. A escola tem uma grande responsabilidade na formação das novas gerações, responsabilidade que não é só dela. Cada vez mais se discute a ideia da cidade educadora. O papel do Estado também é formar e educar a população”, afirma a pedagoga Jaqueline Moll, ex-diretora de Currículos e Educação Integral da Secretaria de Educação Básica do MEC (Ministério da Educação) e referência em educação integral no Brasil e na América Latina. A pesquisadora voltou a Hortolândia, nesta quarta-feira (14/03), para conferir a retomada pela Prefeitura do programa da escola de tempo integral e proferir palestra sobre “Educação Integral: currículo e desenvolvimento”, durante seminário sobre o tema, realizado no auditório da FACH (Faculdade de Hortolândia), no Jd. Amanda. A professora titular da Faculdade de Educação da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) esteve em Hortolândia em 2010 e 2011, durante a implantação do programa Mais Educação, medida do governo federal para promover a educação integral no Brasil.

O seminário, que faz parte das ações de formação continuada oferecida aos profissionais da Secretaria de Educação, Ciência e Tecnologia, reuniu cerca de 300 pessoas, dentre elas integrantes da rede municipal de ensino; o líder do governo na Câmara Municipal, vereador John Lenon; os secretários Fernando Moraes (Educação) e Carlos Augusto César (Governo), que representou o prefeito Angelo Perugini.

Nesta quinta-feira (15/03), Jaqueline Moll visitou a Emeb (Escola Municipal de Educação Básica) Interlagos, onde conversou com gestores, supervisores, coordenadores escolares, professores, funcionários e alunos sobre as atividades do programa escola de tempo integral. A unidade é uma das seis onde o programa está implantado atualmente. Neste ano, 15 escolas municiais participarão da iniciativa, beneficiando 2.419 mil alunos. A meta da Prefeitura é que, em 2020, todas as 28 Emefs participem dele, atendendo 4.210 alunos. A iniciativa oferece a alunos do Ensino Fundamental a oportunidade de participar de atividades culturais, esportivas, artísticas, de lazer e cidadania, no horário oposto ao do ensino regular, desenvolvendo-se em diferentes dimensões.

“É uma grande alegria estar aqui de volta. Já tinha estado aqui em visita à escola Boa Esperança, quando se iniciava a implantação do programa Mais Educação, que foi uma estratégia do governo, uma ação indutora ao debate da escola de tempo integral e de formação humana integral. É bom ver que estas sementes mão morreram e, na Emeb Interlagos, como há um esforço em qualificar, adensar a visão da educação integral”, comentou a pesquisadora.

Para Jaqueline Moll, a educação integral pressupõe a formação humana integral. “A educação integral não é uma modalidade de ensino, não é uma metodologia, não é o último grito da inovação e não é algo a ser copiado de ninguém. Há uma história, uma trajetória e há muito do bom senso humano na formação dessa escola. Nenhum país sério do mundo oferece só quatro horas aos seus meninos e meninas, porque é muito pouco. A escola é um importante espaço de convivência humana, um espaço de humanização, em que seja trabalhada essa multidimensionalidade, as múltiplas dimensões. A dimensão intelectual, cognitiva, é absolutamente necessária e nós temos que transformar toda latência intelectual existente em nossos meninos em potências. É preciso saber muito. A escola é um lugar em que as informações têm que estar presentes, da história, da geografia, das ciências”, defende. Porém, segundo ela, é também papel da escola integral ajudar o aluno a romper com “um mundo com tendências ao fundamentalismo, ao recrudescimento da violência, mas não só. Vai fazer isso ancorando a inteligência no desenvolvimento moral, ético, estético e físico, inclusive. A educação integral conversa com todo este universo”, explica.

“O que eu vejo em Hortolândia é uma grande potência, de latência se transformando em potência. Há a intencionalidade, a vontade política. Estive conversando com muitos professores, com o secretário Fernando (Moraes), com a diretora (de Ensino Fundamental) Roberta (Diniz). Há muita vontade de fazer e há estudos. Há um processo de compreender tudo isso em curso. Eu fico bem feliz com este caminho que vocês estão trilhando. Fico feliz que o prefeito Angelo (Perugini) esteja de novo nessa tarefa de comandar essas políticas todas, porque a gente já teve este diálogo lá atrás. Os bons governantes são aqueles que se preocupam em dar a todos o mesmo ponto de partida”, afirma, referindo-se a um trecho do poema do gaúcho Mário Quintana, que diz que democracia é dar a todos o mesmo ponto de partida. “É preciso que as crianças, filhas dos pobres da sociedade, que são a imensa maioria, tenham a possibilidade de fazer uma corrida mais justa. O ponto de partida dos nossos meninos e meninas  (das escolas públicas) é muito diferenciado. Esses meninos e meninas serão os adultos que nos sucederão. Da qualidade do que nós fizermos com eles e da capacidade de um diálogo qualificado, respeitoso, que permita a eles serem melhores, vai depender o futuro que nós vamos ter. Eles não são o futuro, são o presente. Se eu não fizer isso agora, eu não vou ter uma sociedade melhor”, argumenta a pesquisadora.

Segundo Jaqueline, outra potência extraordinária, no universo da educação integral, é a da relação da escola com a comunidade. “Acabamos de visitar um auditório que seguramente pode ser um espaço educativo, cultural e formativo permanente. É a escola aberta, a escola como espaço que traz a comunidade, em que o teatro, o cinema, a dança, a música também chegam nas classes populares, porque nós sabemos o quanto é difícil que as pessoas tenham acesso a estas possibilidades”, reafirma a professora da URGS.

Para o secretário de Educação, Fernando Moraes, os altos índices de avaliação da escola municipal em Hortolândia são obtidos graças ao esforço e ao legado dos profissionais da rede municipal. “O sonho do prefeito Angelo Perugini é que todas as nossas escolas sejam de tempo integral. Por isso, trouxemos aqui a professora Jaqueline Moll, criadora da política pública ‘Mais Educação’, para apresentar a nós a proposta de entender a escola e seu entorno como um organismo vivo e levar os nossos professores a sonhar. É muito oportuna a vinda dela aqui, para explicar que a escola integral não é só a ampliação da jornada da criança. Existe um alinhamento conceitual entre o que a gente vinha fazendo e o que ela entende como educação integral, que é você possibilitar um programa onde os potenciais da comunidade, os dons e talentos das pessoas fossem considerados no projeto político-pedagógico. Para nós é extremamente importante a vinda dela também porque nos ajudou a compreender que estamos num caminho certo, mas que exige muito aperfeiçoamento, muita formação para que a gente consiga fortalecer esta política da educação integral e deixá-la enraizada na nossa rede municipal”, afirmou.

Na abertura do seminário, o coral “Criança EnCanto”, da recém-inaugurada Emeb Josias da Silva Macedo, apresentou três músicas: “Alô, boa noite”, “Bom Cidadão” e “Tempo de ser feliz”. Regido pela professora Mírian Sella, o coral é formado por crianças de 9 e 10 anos, estudantes dos quartos e quintos anos. A escola também está no programa escola de tempo integral.

Quem é Jaqueline Moll

Confira abaixo o perfil de Jaqueline Moll, atualizado em fevereiro deste ano. As informações estão disponíveis no Currículo Lattes, publicado na plataforma online do CNPq-Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4721475Y9):

Sair da versão mobile