O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) divulgou nesta terça-feira (8) o Plano da Operação Energética (PEN 2025), com um alerta preocupante: o Brasil poderá enfrentar dificuldades no suprimento de energia elétrica nos horários de pico, principalmente no fim do dia, ao longo dos próximos cinco anos. A situação poderá se agravar caso não sejam realizados leilões de reserva de capacidade na forma de potência.
Demanda em alta e risco de falta de potência no pico
Segundo o ONS, o crescimento da matriz elétrica brasileira, cada vez mais dependente de fontes renováveis intermitentes — como a energia solar e a eólica —, exige maior flexibilidade operacional do sistema. Como essas fontes produzem menos ou nenhuma energia à noite, o sistema depende de usinas térmicas flexíveis para suprir a demanda nos horários de maior consumo.
Diante disso, o órgão já estuda alternativas para evitar sobrecargas e apagões, como o possível retorno do horário de verão, que foi suspenso em 2019. A medida poderia aliviar a demanda no período noturno.
Expansão da capacidade instalada até 2029
De acordo com o PEN 2025, a capacidade instalada no país deve crescer 36 GW até 2029, totalizando 268 GW. A fonte solar, incluindo a mini e microgeração distribuída (MMGD), será responsável por 32,9% da matriz elétrica nacional até lá, tornando-se a segunda maior fonte de geração do Brasil.
Apesar desse avanço, o documento ressalta que essas tecnologias não são suficientes para garantir estabilidade na potência nos horários de pico, o que exigirá o despacho intensivo de térmicas nos próximos anos.
Leilões de potência cancelados e incertezas no setor
O relatório reforça a urgência da realização de leilões anuais de reserva de capacidade. No entanto, o leilão previsto para 2023 foi cancelado após ser judicializado. Em abril deste ano, uma portaria do Ministério de Minas e Energia revogou as regras do certame que previa a contratação de empreendimentos de geração térmica e hidrelétrica.
Segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), um novo leilão só poderá ocorrer com a publicação de nova regulamentação. Os estudos e documentos da consulta pública anterior poderão ser reaproveitados.
Risco de violação dos critérios de segurança energética
O documento também aponta períodos críticos de insuficiência de potência (LOLP) para os anos de:
- Agosto a dezembro de 2026
- Agosto de 2027 a abril de 2028
- Julho a dezembro de 2029
Ou seja, todos os anos avaliados entre 2026 e 2029 apresentam risco de violação dos critérios de confiabilidade.
Cargas especiais aumentam o desafio
Outro fator de preocupação para o ONS é a inclusão de cargas especiais, como datacenters e plantas de hidrogênio verde, que exigem alta demanda de energia e possuem baixa flexibilidade operacional. Esses consumidores impactam diretamente o equilíbrio do sistema, especialmente no período noturno, quando o sistema já enfrenta maior dificuldade de suprimento.
O PEN 2025 deixa claro: sem ações estruturais, como novos leilões de potência e a preparação do sistema para uma operação mais dinâmica, o Brasil poderá enfrentar falhas no abastecimento de energia elétrica, especialmente nos horários de maior consumo. O crescimento das fontes renováveis é positivo, mas exige uma reestruturação na forma de garantir potência no Sistema Interligado Nacional (SIN).
