Mesmo sendo o quarto maior produtor de tilápia do mundo, o Brasil vive um momento de tensão no setor aquícola após o governo federal liberar a importação de tilápia do Vietnã. A decisão, anunciada em abril de 2025 pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), vem gerando críticas de produtores, especialistas e entidades do agronegócio, que temem concorrência desleal e queda na renda de famílias brasileiras ligadas à piscicultura.
Segundo o Anuário PeixeBR 2025, o país produziu 662,2 mil toneladas de tilápia no ano anterior, um aumento de 14,3% em relação a 2023. A espécie representa 68% da produção total de peixes cultivados no Brasil, consolidando o país como uma potência global na aquicultura — atrás apenas de China, Indonésia e Egito.
Governo libera importação de tilápia vietnamita
A revogação da proibição da importação de tilápia do Vietnã foi oficializada no Diário Oficial da União e, desde então, tem sido classificada como uma decisão “imprudente” pela Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR).
Segundo a entidade, a medida ignora riscos sanitários e enfraquece a competitividade nacional, ao permitir que peixes vietnamitas cheguem ao mercado brasileiro com custos de produção menores.
“A revogação desconsidera alertas técnicos e ocorre em meio a tratativas comerciais entre os governos do Brasil e do Vietnã”, destacou a PeixeBR em nota oficial.
Primeiros carregamentos já estão a caminho
No início de novembro, a imprensa vietnamita confirmou o envio do primeiro contêiner com 24 toneladas de tilápia, embarcado no porto de Ho Chi Minh com destino ao porto de Santos (SP).
O carregamento faz parte de um lote de 32 contêineres, totalizando 700 toneladas, contratados pela JBS para atender o varejo e o setor de alimentação (HORECA).
A chegada está prevista para 17 de dezembro de 2025, marcando o início efetivo da importação do produto vietnamita.
Ministério da Pesca reconhece possíveis impactos
Em resposta ao portal Click Petróleo e Gás, o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) afirmou estar monitorando os impactos econômicos e sociais da importação, mas destacou que a responsabilidade sobre o tema é do Mapa.
“Estamos avaliando e monitorando os possíveis impactos em curto e longo prazo”, declarou o MPA.
O Ministério do Meio Ambiente também se manifestou, afirmando que a inclusão da tilápia na lista de espécies exóticas invasoras é apenas técnica e preventiva, sem proibição de cultivo.
Produtores criticam e temem burocracia
Mesmo com as garantias do governo, o setor aquícola teme que a medida desestimule a produção interna.
Produtores afirmam que o país pode estar abrindo mão de uma vantagem estratégica, favorecendo concorrentes internacionais.
“Enquanto o Vietnã expande seus mercados, o Brasil parece remar contra a corrente das próprias políticas de incentivo à piscicultura”, criticou um representante da PeixeBR.
Tilápia segue como líder da piscicultura nacional
Os estados do Paraná, São Paulo, Bahia e Ceará concentram a maior parte da produção de tilápia no país. O crescimento vem sendo impulsionado por inovações tecnológicas, tanques-rede modernos e cadeias de processamento eficientes.
Em 2024, o Brasil exportou 13,7 mil toneladas de peixes de cultivo, gerando US$ 59 milhões em receitas, segundo o Estadão Agro.
A PeixeBR estima que a piscicultura nacional gere cerca de 3 milhões de empregos diretos e indiretos, movimentando uma cadeia que vai desde a ração até a logística.
Perguntas frequentes (FAQ)
1. Por que o Brasil liberou a importação de tilápia do Vietnã?
A decisão faz parte de acordos comerciais entre os dois países e foi oficializada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária.
2. Quais os riscos apontados pelos produtores brasileiros?
Concorrência desleal, risco sanitário e perda de competitividade para o produto nacional.
3. Quem importará o peixe vietnamita?
O Grupo JBS é o principal comprador, com 700 toneladas já contratadas.
4. O cultivo de tilápia brasileira será proibido?
Não. O governo afirmou que a produção nacional continua liberada.
5. Quantos empregos o setor gera no Brasil?
Cerca de 3 milhões de empregos diretos e indiretos em todo o país.
